Disparidades salariais entre homens e mulheres aumentam com a qualificação
10 de out. de 2017, 15:11
— Lusa/AO online
Intervindo em Coimbra, na sessão de apresentação
do projeto-piloto "Engenheiras por Um Dia", que visa promover o acesso
de mulheres às áreas das engenharias e tecnologias, Eduardo Cabrita
afirmou que o Governo prepara uma lei que visa combater as disparidades
salariais entre homens e mulheres. "Vamos ter brevemente [...]
uma lei sobre disparidades salariais, que são disparidades indiretas. E
que afetam, curiosamente, sobretudo as mulheres mais qualificadas",
afirmou Eduardo Cabrita. Argumentando que há "pouquíssimos
exemplos" de países com legislação do género, Eduardo Cabrita disse que a
Alemanha e a Islândia "fizeram caminhos nesse sentido" e adiantou que o
Governo português pretende "trabalhar com as empresas" sobre o fenómeno
das disparidades salariais. "As disparidades aumentaram nos
tempos de crise, reduziram-se nos últimos anos. O aumento sucessivo,
significativo, do salário mínimo em 2016 e 2017 reduziu bastante as
disparidades salariais, porque há muitas mulheres a ganhar o salário
mínimo", frisou o governante. No entanto, acrescentou, se se
falar de mulheres com licenciatura ou formação acima da licenciatura, a
disparidade salarial em Portugal atinge cerca de 25%, ou seja, "à medida
que a qualificação aumenta, a disparidade também aumenta. É
sobre a identificação desses fatores não escritos e decorrentes de
estereótipos, de práticas empresarias, que o executivo pretende agir. Segundo
o Governo, o projeto-piloto hoje apresentado "centra-se no combate e
prevenção da intensificação da segregação das ocupações profissionais em
razão do sexo e, em especial, na ausência das mulheres das áreas de
engenharia e tecnologias". Vai funcionar, até maio de 2018, em
parceria entre a tutela, a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de
Género, o Instituto Superior Técnico, a Associação Portuguesa de Estudos
sobre as Mulheres e dez escolas e agrupamentos do ensino público de
nove localidades do continente: Porto, Matosinhos, Fundão, Figueira da
Foz, Miranda do Corvo, Pombal, Vila Franca de Xira, Évora e Seixal. O
projeto "Engenheiras por Um Dia" visa "promover, junto das estudantes
de ensino não superior, a opção pelas engenharias e pelas tecnologias,
desconstruindo a ideia de que estas são domínios masculinos". Será
operacionalizado junto das escolas aderentes, entre outros, através de
um conjunto de "desafios concretos nas áreas de engenharia", propostos
pelo Instituto Superior Técnico e dinamizados, em cada escola envolvida,
por uma equipa de alunas daquele instituto, que se transformarão em
mentoras das estudantes de cada escola ou agrupamento participantes. "Globalmente,
pretende-se combater os preconceitos e estereótipos sociais sobre o que
é suposto ser próprio e adequado às mulheres e raparigas, estereótipos
esses que condicionam, ainda, as opções escolares e escolhas formativas e
de carreira", lê-se na justificação do projeto. Dados hoje
disponibilizados pelo Governo sustentam que, apesar da evolução positiva
das áreas profissionais associadas às engenharias e às tecnologias,
quanto a remunerações e rendimentos, possibilidades de carreira e
potencialidades de inovação e de progresso para a economia, é notória
"uma evolução negativa preocupante da taxa de feminização dos cursos de
engenharia e tecnologias". De acordo com os mesmos dados, nos
últimos três anos letivos, entre 2013 e 2016, a percentagem de inscritas
nos cursos de licenciatura em engenharia "situou-se em cerca de 19%" "E,
se retirarmos os cursos de Engenharia Química, Química e Biologia,
Biomédica e Bioengenharia (nos quais se concentram as inscrições do sexo
feminino), esta percentagem desce para cerca de 15%, mantendo-se
inalterável nestes três anos", situação que o projeto-piloto pretende
alterar.