Discurso da “força” de Trump obriga Portugal a repensar ligação com NATO e EUA

30 de jan. de 2025, 16:32 — Lusa/AO Online

Em entrevista à Lusa, António José Telo afirmou que “há uma alteração, sem dúvida”, com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, na forma como se enquadram no contexto global Portugal e a consequente posição geoestratégica dos Açores.O professor catedrático e doutorado em História sublinha que existe uma “importância muito significativa dos espaços marítimos”, a par da rota do Norte, “onde cada vez mais navios passam durante mais tempo” e que, “se Trump levantar a Gronelândia em termos internacionais”, esta é uma via “muito mais rápida entre o Pacífico e o Atlântico”. O Ártico, explica o professor, é “há muito um centro de rivalidades e confronto entre os grandes poderes”, onde a Rússia, China e Estados Unidos possuem interesses, “ligando-se diretamente com o Atlântico Norte” e com o espaço marítimo do Reino Unido e de Portugal.“É este conjunto que tem que ser encarado a uma nova luz”, a “luz da força do que os novos meios aéreos, marítimos e aeronavais permitem em termos de controlo desse espaço, não só no sentido da aplicação da lei mas também da aplicação da força”, sustenta António José Telo.De acordo com o especialista, “é a esta luz que se tem que encarar os espaços arquipelágicos” como os Açores, onde os Estados Unidos possuem uma base militar, na ilha Terceira, desde a 2ª. Guerra Mundial, cuja importância se tem vindo a acentuar ou a atenuar em função das mutações em termos geopolíticos no globo.No caso de Portugal “e dos Açores, em particular”, que são o “grande fator de acesso ao espaço marítimo do Atlântico Norte”, pensava-se “até agora que o facto de pertencer à NATO era garantia de segurança necessária e suficiente, nomeadamente em relação à ampla zona marítima e o arquipélago”. “Talvez agora tenha que se repensar isso e o fundamental não seja o facto de pertencer à NATO, mas a relação com os Estados Unidos e a forma como essa é gerida”, defende.Para o historiador, Portugal e o seu espaço marítimo, “marcado pelo arquipélago dos Açores”, está “ensanduichado” entre a Gronelândia e o Panamá.António José Telo frisa que o papel dessa zona, onde se situam os Açores, “mudou dentro do novo discurso da força e da nova maneira de pensar o controlo da zonas marítimas e o exercício do poder naval”.O especialista em relações internacionais considera que “há um erro muito usual de que Trump mudou o mundo”, quando “é exatamente ao contrário”, ou seja, “o mundo mudou e Trump é uma consequência dessa mudança”.“Trump limita-se a cavalgar uma mudança de fundo que não depende dele, que surgiu existisse ele ou não”, afirma o docente.Tal como Putin, Trump “cavalga essa mudança que tem a ver com a rapidez da alteração”, sendo este um novo “paradigma das novas relações internacionais”. No anterior paradigma, o direito internacional “limitava o que se podia fazer”, mas houve uma “mudança drástica” e a “única coisa que conta nas relações internacionais é a força” e o direito “é um mero pormenor de segurança”.