Diretora da Escola de Saúde Pública defende uso de máscara em espaços fechados
Covid-19
2 de set. de 2021, 12:14
— Lusa/AO Online
Apesar
de a atual fase do plano de desconfinamento do Governo para o controlo
da pandemia prever o fim da obrigatoriedade da utilização de máscara em
espaços públicos, cuja lei está em vigor até dia 12, Carla Nunes
argumenta que está em causa uma relação “custo-benefício” na
continuidade do uso deste equipamento de proteção individual que se
devia manter.“Em espaços fechados as
pessoas devem continuar a ter a máscara, a ter o distanciamento, a lavar
as mãos e a abrir sempre as janelas. São medidas que, de alguma forma,
não nos inibem totalmente de retomarmos a nossa vida: podemos continuar a
trabalhar, a sair, a ir ao cinema e retomar a maior parte das coisas
que fazemos”, afirma a líder da ENSP, acrescentando: “Estas medidas não
são limitativas da nossa vida, somente aborrecidas”.Recorrendo
ao barómetro Covid-19, produzido pela instituição que lidera e cujos
dados têm sido partilhados ao longo da pandemia nas reuniões realizadas
no Infarmed entre especialistas e políticos, Carla Nunes reforça que o
maior problema nas restrições adotadas nunca esteve, sequer, nas
máscaras, mas sim na limitação das situações de confraternização com
amigos ou familiares e adianta que 85% dos inquiridos só esperam um
regresso à normalidade em 2022.“Todos
sabemos que isto tem de ser um compromisso e, se nós usarmos algumas
destas restrições, é mais provável que não tenhamos de dar passos atrás.
Voltaremos a ser os mesmos com outras medidas e outros cuidados, mas
acho que é urgente retomarmos a nossa atividade como um todo. Temos de
voltar ao nosso trabalho com as devidas adaptações: as máscaras, o
distanciamento, os rastreios e os testes estarão dentro dessa
normalidade”, frisa.Questionada sobre o
relacionamento entre os especialistas e os decisores políticos, a
epidemiologista e matemática - que esteve sempre presente nos encontros
efetuados na sede da autoridade do medicamento para a análise da
situação epidemiológica – reconhece que é um processo que também passou
por diferentes fases, mas não deixa de salientar a “abertura positiva” e
que especialistas e dirigentes políticos tinham papéis distintos.“É
positiva a audição dos peritos e também é positivo que seja aberto ao
mundo. Há determinados temas que, pela sua complexidade, por vezes,
depois precisam de ser maturados a outros níveis que serão, com certeza,
onde nós não estamos”, observa, continuando: “Os especialistas dizem o
que acham e o Governo faz o que quer, ouvindo estes e outros
especialistas e não havendo nenhum tipo de condicionamento externo nesta
relação”.Já em relação à postura da
Direção-Geral da Saúde (DGS) e as suas diferenças durante a pandemia, a
diretora da ENSP da Universidade Nova de Lisboa nota que a covid-19
representou também uma “grande aprendizagem” para a instituição liderada
por Graça Freitas e que as diferentes fases exigiram mudanças nem
sempre fáceis na estratégia de comunicação.“Houve
uma primeira abordagem: toda a gente muito informada de qualquer
pormenor, todos os dias e a todas as horas”, refere, admitindo um
“excesso de informação” da DGS. Por outro
lado, destaca a entrada de outros atores neste processo, como a
‘task-force’ responsável pelo plano de vacinação, algo que entende como
cada vez mais necessário, uma vez virada a página da pior fase da
pandemia: “Temos de mudar os atores, porque não podem ser sempre os
mesmos a falar em mortes e no dia seguinte a falar de vacinas”.