Diretor do Air Centre defende que o Atlântico pode ser um grande produtor de aquicultura
14 de out. de 2024, 15:40
— Lusa/AO Online
“O
Air Centre está profundamente comprometido com o desenvolvimento de uma
economia azul realista, baseada no setor económico, com o apoio das
universidades, em cooperação com o Estado, que regula, de forma a que
seja possível, rapidamente, o Atlântico ser um grande produtor de
aquicultura, que diminua a pressão das pescas, que recupere a
generalidade dos stocks de pesca tradicionais e que seja possível
deixarmos para os próximos anos melhor do que encontrámos”, afirmou
Miguel Miranda.O diretor executivo do
Centro Internacional de Investigação para o Atlântico - Air Centre
falava em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, na sessão de abertura do
Fórum Atlântico de Aquacultura, que decorre durante dois dias nos
Açores.O encontro junta especialistas
nacionais e internacionais, contando com a participação de países como
Senegal, Angola e Cabo Verde.Miguel
Miranda defendeu que os Açores já “produzem a melhor carne e o melhor
peixe” e têm como desafio produzir também “a melhor aquicultura
possível”.Para implementar a aquicultura, é
preciso, segundo o diretor executivo do Air Centre, que o setor
contribua “simultaneamente para a produção de proteína e para o aumento
da riqueza dos países”.Miguel Miranda
considerou ainda que “não é possível fazer um grande plano de
aquicultura sem o papel das universidades”, salientando que há um
melhoramento genético a fazer.Por outro
lado, destacou o papel das organizações nacionais que "simultaneamente
são responsáveis pelo licenciamento, pela segurança e salvaguarda
alimentares e por manter a saúde do oceano”, sublinhando que a
compatibilidade ambiental é um desafio.O
diretor executivo do Air Centre, que foi presidente do Instituto
Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) alertou para o aumento da
temperatura do mar nos Açores, que este verão atingiu os valores mais
elevados das últimas oito décadas.“O
aquecimento veio para ficar, cada ano vamos ter uma temperatura um
bocadinho maior do que o anterior”, afirmou, questionando se as
temperaturas do mar, que ultrapassaram os 27 graus este ano, poderão ter
algum tipo de influência nos stocks das espécies de peixe com valor
comercial na região.“É bom que a gente
pense que nada é imutável e que temos de nos preparar para condições que
serão ainda piores do que aquelas que conhecemos hoje”, reforçou.O
vice-presidente do Governo Regional dos Açores, Artur Lima, apelou à
dedicação dos cientistas e ao empenho dos privados para que a
aquicultura possa ser desenvolvida na região.“O
envolvimento do Air Centre, da Universidade dos Açores, dos privados, é
absolutamente fundamental para que este projeto possa avançar e é
fundamental para que os Açores se possam desenvolver, juntando todas
estas entidades, em que o Governo seja apenas o regulador e não o agente
principal”, apontou.Dirigindo-se à
reitora da Universidade dos Açores, Susana Mira Leal, o vice-presidente
do executivo açoriano apelou a que a academia se dedique mais a estas
áreas.“A ciência só é útil quando é útil
ao cidadão. É fundamental que a Universidade dos Açores e todos os
‘players’ se envolvam neste projeto de maneira a que produza
resultados”, declarou, desafiando ainda os privados a “agarrar este tipo
de projetos para que possam criar mais emprego”.Susana Mira Leal reconheceu que há trabalho a percorrer na academia açoriana sobre a aquicultura.“Temos
algum trabalho feito, mas muito trabalho mais há a fazer em parceria
quer com as entidades governamentais, quer com os parceiros estrangeiros
já conhecedores destas matérias, quer com o setor privado”, afirmou.A
reitora da Universidade dos Açores defendeu que a aquicultura “tem
potencial” na região, mas apresenta “um conjunto de desafios
importantes”, apontando como principais riscos a poluição das águas, a
fuga de espécies exóticas, o uso indiscriminado de medicamentos para
controlo de doenças e a redução da qualidade nutricional dos alimentos.A
diretora-geral da Política do Mar, Marisa Silva, lembrou que Portugal
prevê aumentar a produção nacional de aquicultura para 25 mil toneladas
por ano.“Os oceanos vão ter um papel
fundamental na resposta a desafios chave e muitas soluções vão ser
desenvolvidas a partir do seu uso sustentável, com um grande impacto no
emprego e em atividades nas comunidades costeiras. A ciência e a
inovação terão um papel fundamental na criação de políticas públicas
para os oceanos”, salientou.