Autor: Lusa/AO Online
Em
conferência de imprensa na sede da organização, em Genebra, Tedros
Adhanom Ghebreyesus apelou também a Israel para travar “esta
catástrofe", referindo que pelo menos 370 pessoas já morreram de fome
desde o início do conflito, das quais cerca de 300 só nos últimos dois
meses.
"O mais intolerável sobre este
desastre causado pelo Homem é que poderia parar agora mesmo. As pessoas
estão a morrer de fome enquanto a comida que poderia salvá-las permanece
em camiões a uma curta distância", lamentou o líder da OMS, insistindo
que “esta é uma catástrofe que Israel poderia ter evitado e impedir a
qualquer momento".
Tedros Adhanom
Ghebreyesus frisou que usar a fome como arma contra a população civil "é
um crime de guerra que nunca poderá ser tolerado" e advertiu que a sua
utilização no enclave palestiniano estabelece um precedente perigoso
para futuros conflitos.
Ao mesmo tempo,
avisou que, "quando a fome chega, a doença também chega", apontando uma
combinação de falta de alimentos e de água potável somada à sobrelotação
em que muitos vivem, que deixa os habitantes do território com o
sistema imunitário enfraquecido e vulnerável.
O
diretor-geral da OMS assinalou o ritmo insuficiente das retiradas de
doentes e feridos da Faixa de Gaza, quando o total em quase dois anos de
guerra regista mais de 70 mil pessoas, mas acima de 15 mil ainda
necessitam de cuidados especializados urgentes fora do território.
"Mais
de 700 pessoas morreram à espera de retirada médica, incluindo quase
140 crianças", lamentou, referindo que o número de países que aceitaram
acolher estes doentes é também insuficiente.
"Apelamos
aos Estados para que abram os braços a estes doentes gravemente doentes
e a Israel para que permita que alguns sejam tratados na Cisjordânia e
em Jerusalém Oriental", acrescentou.
O
diretor-geral da OMS reafirmou ainda o apelo ao Governo israelita “para
que ponha fim a esta guerra desumana”, e, caso não o faça, pediu aos
aliados de Telavive que “usem a sua influência para pôr fim ao
conflito".
Relatores de direitos humanos da
ONU, organizações internacionais e um número crescente de países
descrevem a campanha militar de Israel na Faixa de Gaza como genocídio.
O
bloqueio total que Israel impôs à entrada de ajuda humanitária desde
março até ao final de maio levou a uma situação de fome, oficialmente
declarada pela ONU em agosto no norte do território mas negada pelas
autoridades israelitas.
O apelo da OMS
surge numa fase em que Israel desenvolve o seu novo plano militar para o
enclave, que prevê a ocupação da Cidade de Gaza, na região apontada
pela ONU como a mais afetada pela fome, e a deslocação forçada de
centenas de milhares dos seus habitantes, gerando uma vaga de críticas
internacionais e dentro do próprio país.
Israel
afirma pretender eliminar as últimas bolsas de resistência do Hamas e
recuperar os 48 reféns que conserva na sua posse, dos quais de calcula
que 20 estejam vivos, antes de entregar a gestão do território a
entidades civis que não sejam hostis a Telavive.
A
guerra em curso na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque
liderado pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde fez
1.200 mortos, na maioria civis, e 251 reféns.
Em
retaliação, Israel lançou uma ofensiva em grande escala no enclave
palestiniano, que provocou acima de 64 mil mortos, na maioria mulheres e
crianças, segundo as autoridades locais controladas pelo grupo
islamita, destruiu a quase totalidade das infraestruturas do território e
provocou um desastre humanitário sem precedentes na região.