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Diocese de Angra cria serviço para apoiar imigrantes

Diocese de Angra apresentou o novo serviço da Pastoral da Mobilidade Humana – Departamento das Migrações, que tem como missão acolher imigrantes, combater perceções negativas que levam à exclusão e trabalhar em rede com outras instituições. Nova estrutura aposta em apoio espiritual, psicológico e jurídico, formação nas paróquias e voluntariado.


Autor: Ana Carvalho Melo

Promover o acolhimento dos imigrantes na Região, enquanto se desconstrói junto da comunidade local as falsas perceções que contribuem para a exclusão, são os objetivos do novo serviço e da nova equipa da Pastoral da Mobilidade Humana – Departamento das Migrações – da Diocese de Angra, que foi publicamente apresentada ontem.

“É uma preocupação da Igreja dos Açores olhar para a realidade da imigração que nos toca e termos respostas assertivas no acolhimento”, afirmou ao Açoriano Oriental o padre Duarte Melo.

Segundo o sacerdote, através da Pastoral da Mobilidade Humana – Departamento das Migrações, “a Igreja disponibiliza-se a dar este contributo e, ao mesmo tempo, associa-se a outras instituições que já estão a trabalhar no terreno, no sentido de reforçarmos este desejo de minimizar os impactos negativos que são tão prejudiciais a pessoas vulneráveis e fragilizadas”.

“Além de termos a missão do acolhimento, também temos a missão da denúncia de tudo o que vai germinando através de falsas perceções, muitas vezes manipuladas e geradoras de fobias, que atiram as pessoas para a exclusão e o sofrimento. Portanto, é um olhar vigilante da Igreja, através deste departamento das migrações, no sentido de trabalharmos em rede, tecermos relações e fazermos um pacto de compromisso”, declarou.

Nesse sentido, Ana Silva, diretora da Pastoral da Mobilidade Humana para as Migrações, explicou que este serviço da Diocese de Angra “tem como missão não só acolher, mas, acima de tudo, dialogar com todos os que trabalham na área das migrações, sejam leigos, sacerdotes, diáconos, bem como as instituições públicas e privadas que têm esta missão de acolher”.

Neste contexto, defendeu que “é importante que as diferentes instituições, a começar pelas instituições religiosas, tenham o poder de informar quem decide, a determinada altura da sua vida, migrar ou escolher os Açores para viver, sobre onde recorrer e, acima de tudo, poder cooperar e colaborar com as diferentes entidades sociais e culturais, para que o processo de integração seja efetivamente pleno e rico. Caso contrário, podemos estar a viver situações de exclusão social por não haver esta conexão com a sociedade açoriana”.

De acordo com Ana Silva, o apoio espiritual, psicológico e jurídico são as prioridades da Pastoral, de modo a ir ao encontro das necessidades locais e das diferentes instituições.

“Não se trata de substituir nenhuma instituição que esteja no terreno, pelo contrário: pretendemos que os serviços da Pastoral sejam um complemento e um apoio adicional para quem, numa determinada situação, possa necessitar de aconselhamento jurídico ou apoio psicológico”, explicou, frisando: “Não nos podemos esquecer de que o processo migratório é um ato de coragem - e esta coragem pertence a quem decide deixar o seu país de origem, a sua família e as suas raízes, para encontrar num novo espaço um lugar digno para viver”.

Face a esta realidade, a diretora da Pastoral da Mobilidade Humana para as Migrações realça que, no processo migratório, há “inevitavelmente transformações psicológicas”, pelo que “é importante que quem acolhe esteja também alerta para estas mudanças e possa, em boa hora, intervir e dar o apoio necessário”.

Neste sentido, a Pastoral pretende trabalhar em estreita ligação com as entidades que já atuam no terreno, tendo também criado uma bolsa de voluntários.

“A bolsa de voluntários está em construção, já temos várias pessoas sinalizadas, e qualquer pessoa que queira contribuir para este processo pode associar-se. As pessoas são bem-vindas a participar e a dar do seu tempo para promover uma sociedade mais inclusiva, mais justa e onde os direitos humanos sejam efetivamente respeitados”, afirmou.

Para melhor desenvolver a sua atividade, a Pastoral da Mobilidade Humana – Departamento das Migrações, nomeada no final de 2024, iniciou a sua missão com a auscultação das paróquias e de todos os sacerdotes, no sentido de perceber a realidade migratória em cada paróquia.

“A partir da participação que tivemos, conseguimos perceber que há uma grande diversidade religiosa e cultural nos Açores. Estamos a falar de cerca de 6.200 estrangeiros com autorização de residência válida em Portugal, de acordo com dados de 2023, mas sabemos que há um aumento efetivo da população estrangeira. E estamos a falar de pessoas que vivem nos 19 concelhos dos Açores. Temos uma diversidade cultural de mais de 98 nacionalidades, ou seja, há um mapa cultural espalhado pelas nove ilhas, ao qual a Igreja está inevitavelmente associada”, descreveu.

Segundo Ana Silva, este questionário mostrou também uma grande disponibilidade e interesse das paróquias em receber formação, por um lado para prestar um serviço social de proximidade, de forma a estarem devidamente informadas sobre quais as instituições para onde devem encaminhar as pessoas e como o fazer, e por outro lado em receber formação em primeiros socorros de saúde mental bem como formação em migrações.

“A Região é uma região migratória, e é importante que estejamos todos unidos e conscientes desta temática, porque migrar é um direito humano - tal como decidir não migrar”, defendeu.