Dificuldades económicas refletem-se nos resultados escolares e na ambição académica

3 de dez. de 2019, 12:40 — Lusa/AO Online

A origem socioeconómica dos alunos é um “forte indicador” dos resultados dos alunos portugueses na leitura, matemática e ciências, defende a OCDE no relatório PISA de 2018, divulgado esta terça-feira.O PISA é um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), elaborado de três em três anos e que mede o desempenho dos alunos de 15 anos em competências como leitura, matemática e ciências, avaliando ainda outras questões como o ambiente escolar e as condições de equidade na aprendizagem.Os resultados no PISA são contabilizados em pontos. Nas competências de leitura, por exemplo, os alunos portugueses registaram um resultado global de 492 pontos, alinhado com a média dos países da OCDE.No entanto, o relatório indica que os resultados dos alunos de origem socioeconómica mais favorecida ficam 95 pontos acima dos que têm maiores dificuldades económica.Este diferencial é superior à média da OCDE nesta comparação, que é de 89 pontos.Em 2009, o diferencial resultante da origem socioeconómica dos alunos era de 87 pontos, em linha com a média da OCDE.Entre os alunos com desempenho de topo nas competências de leitura, 16% são de classes mais altas e apenas 2% de origem desfavorecida.Ainda assim, o PISA 2018 aponta 10% de alunos de baixa condição socioeconómica que conseguiram resultados entre os 25% mais elevados obtidos pelos alunos portugueses em leitura, o que para a OCDE significa que a pobreza não tem que ser uma fatalidade.Os resultados indicam ainda que um quarto dos alunos mais pobres, ainda que com bom desempenho académico, não perspetivam concluir um curso superior, o que entre os alunos mais favorecidos é um objetivo declarado pela quase totalidade.Em termos de resultados, mas também de expectativas de carreira, continua a haver um “eles” e um “elas”.As raparigas superam os rapazes na leitura, mas eles são melhores a matemática do que elas. Em ciências não há diferenças de género assinaláveis, aponta o relatório. O diferencial de género nas competências de leitura decresceu, ainda assim, ao longo de uma década: era de 38 pontos em 2009 e em 2018 baixou para os 24 pontos.Já no que diz respeito a carreiras, engenharia e ciências continuam a ser áreas de formação preferenciais para os rapazes e as profissões ligadas à saúde a opção primordial das raparigas. Carreiras na área das tecnologias de informação atraem menos de 10% dos estudantes portugueses, com primazia para os rapazes.O relatório aponta ainda que a segregação de alunos com piores resultados tem o mesmo peso em Portugal do que na generalidade dos países da OCDE, com uma média igual de colocação dos alunos com pior desempenho em determinadas escolas.Ainda assim, a probabilidade de um aluno mais pobre frequentar a mesma escola com outro com bons resultados escolares é superior em Portugal à média da OCDE: 22% de hipóteses em Portugal contra 17% de média da OCDE.Ainda que as escolas portuguesas reportem uma maior falta de recursos do que a média da OCDE, o relatório indica que não há diferenças significativas entre escolas de meios favorecidos e as de meios desfavorecidos.O PISA 2018 analisa ainda a equidade para alunos imigrantes, uma realidade que cresceu em Portugal dos 5% em 2009 para os 7% em 2018.Um em cada quatro alunos de origem estrangeira tem dificuldades económicas, mas ainda assim, 17% dos alunos com um ‘background’ imigrante conseguiram resultados entre os 25% mais elevados.O ambiente escolar continua a não ser completamente seguro: 14% dos alunos indicaram ter sido vítimas de ‘bullying’, “pelo menos, algumas vezes por mês” e 10% afirmaram sentir-se sozinhos na escola.Os alunos portugueses reconhecem ainda que o mau comportamento se reflete nos resultados: aqueles que admitem que os professores têm que esperar muito até que a turma sossegue para poder começar uma aula registaram resultados em leitura 17 pontos abaixo dos que afirmam que isso nunca acontece na sua turma.A maioria dos estudantes portugueses (69% contra 67% de média da OCDE) afirmam ainda que estão satisfeitos com as suas vidas. Apenas 3% indicaram sentir-se sempre tristes.A escola é também percecionada pela maioria como um espaço de crescimento: 66% dos alunos nacionais discordaram da afirmação “A tua inteligência é algo sobre ti que não podes mudar muito”.