Diferenças entre gripe e Covid-19 são fosso entre desconhecido e expectável
Saúde
12 de fev. de 2020, 13:12
— Lusa/AO online
O
vírus da gripe circula “há milhares de anos na população humana”,
enquanto o novo coronavírus – Covid-19 – só surgiu nos seres humanos há
poucos meses, estando ainda num processo de adaptação ao homem. “Para
a quase totalidade dos seres humanos e para o seu sistema imunitário
este vírus é totalmente desconhecido. Embora todas as doenças
infecciosas tenham uma componente de incerteza, as diferenças entre a
gripe e o novo coronavírus resultam da comparação entre o conhecido e o
expectável, do lado da gripe, com o desconhecido e o imprevisível do
Covid-19”, disse Filipe Froes à agência Lusa, admitindo que esta é uma
das questões que lhe tem sido muitas vezes colocadas no último mês.As
diferenças entre conhecimento e desconhecimento têm um grande impacto
nas questões essenciais: na epidemiologia (Quem, Quando e Como), no
tratamento e na prevenção.“Para a gripe
sabemos quem é mais afetado e quem tem maior risco de desenvolver formas
graves de doença, quando ocorre a doença e quando e como se transmite.
Sabemos o período de incubação e o período de contágio”, lembra Filipe
Froes, que é pneumologista e intensivista no hospital Pulido Valente.Para
o novo coronavírus, a informação sobre a severidade e formas de
transmissão é “muito preliminar”, “limitada a pequenos subgrupos” ou
então inexistente.Também em relação ao tratamento e prevenção as diferenças entre gripe e o Covid-19 “são totais”.“Em
Portugal estão disponíveis dois fármacos específicos para a gripe
(oseltamivir e zanamivir). E todos os anos são produzidas, a nível
mundial, várias centenas de milhões de diferentes tipos de vacinas
contra a gripe com os padrões de eficácia e segurança exigidos pelas
autoridades regulamentares. Para o novo coronavírus serão necessários
muitos meses ou anos até haver vacinas e fármacos com eficácia e
segurança validada e em quantidade para suprir as necessidades à escala
global”, explica o coordenador do gabinete de crise da Ordem do Médicos e
membro da ‘task force’ da Direção-geral da Saúde para a infeção pelo
novo vírus.Perante a imprevisibilidade do
novo surto ou epidemia, Filipe Froes avisa que é essencial manter um
estado de “atenção, precaução e preparação”.O
perito lembra ainda que este tipo de situações são “recorrentes e
representam um desafio perpétuo para a Humanidade”, até porque se trata
do terceiro surto com coronavírus só nos últimos vinte anos.“Temos
de saber aprender e crescer com estas situações. Eu não sei como é que
este terceiro surto vai acabar, mas uma coisa é certa: espero estar mais
bem preparado para o próximo. Seja o quarto de coronavírus ou de outro
microrganismo”, refere.O surto do novo
coronavírus que foi detetado na China já infetou mais de 45 mil pessoas e
provocou a morte a mais de 1.100, mas só um dos óbitos ocorreu fora de
território chinês.A Organização Mundial de Saúde (OMS) atribuiu na terça-feira o nome Covid-19 à doença provocada pelo novo coronavírus.