Detenções por crimes sexuais duplicam nos Açores

Hoje 09:59 — Daniela Arruda

Desde o início de 2025, e até 18 de novembro, foram registadas 82 queixas por abuso sexual de crianças, quatro por abuso sexual de menores dependentes, 23 inquéritos por pornografia de menores e 14 detenções por crimes sexuais contra menores nos Açores, o dobro do registado no ano passado. Os dados foram avançados pela Polícia Judiciária ao Açoriano Oriental.Relativamente à distribuição das detenções realizadas ainda neste ano, cinco ocorreram em São Miguel, três no Faial, três na  Terceira, duas no Pico e uma na Graciosa. Em 2024 tinham sido detidas sete pessoas: quatro em São Miguel, uma na Terceira, uma no Faial e uma em São Jorge.Em 2024, os registos de crimes de abuso sexual de crianças e menores abrangeram sete ilhas: 60 em São Miguel; 20 na Terceira; nove no Pico; sete no Faial; dois na Graciosa; dois nas Flores e um em São Jorge.A divulgação destes números coincidiu com a realização do webinar “Entre cliques e ameaças: crimes sexuais contra crianças”, organizado pela Secretaria Regional da Saúde e Segurança Social, através do Comissariado dos Açores para a Infância - CAI. A iniciativa contou com as intervenção de Gerson Duarte, inspetor da Polícia Judiciária nos Açores, e de Carolina Soares, gestora da Linha Internet Segura e coordenadora da Unidade de Cibercrime da Associação de Apoio à Vítima - APAV.Durante a sessão,  o presidente do CAI, Emanuel Areias, anunciou a intenção de criar, no próximo ano, um painel constituído por crianças e jovens. O objetivo é que possam participar ativamente na discussão e na resolução de problemas, reforçando o envolvimento das próprias crianças nas decisões que as afetam.O quarto pode não ser um espaço seguro O mundo digital tornou-se um espaço de grande vulnerabilidade para crianças e jovens, alerta Carolina Soares. Segundo a especialista, mesmo em casa e na presença dos pais, uma criança pode estar exposta a violência sexual, grooming e extorsão, através do próprio telemóvel que se transformou numa “arma silenciosa”.O grooming é um dos principais perigos, o agressor constrói uma relação de confiança ao longo do tempo, explora os interesses da criança ou do jovem e gradualmente envolve a vítima em conversas sexuais. Pode exigir conteúdos cada vez mais específicos e nem sempre existe a intenção de trazer esta relação para o contexto real, ou seja querer o contacto físico.Caso a criança rompa o vínculo, o agressor tende a reaparecer sob uma nova identidade, mas desta vez com conhecimento dos limite e preferências do jovem.Outro risco é extorsão sexual, em que a intimidade é criada rapidamente, muitas vezes em poucas horas, e a conversa é direcionada para conteúdos sexuais. O agressor ameaça expor imagens da vítima para obter novos conteúdos, participação em atos sexuais ou cumprir outras exigências, como o pagamento de dinheiro.Gerson Duarte revela que já existe alterações no comportamento dos opressores face à extorsão sexual. Existem casos em que o objetivo já não passa por exigir quantias monetárias, mas sim utilizar as contas bancárias de adolescentes para o branqueamento de capitais.A especialista referiu ainda que a partilha de imagens íntimas sem consentimento também é crime, assim como conteúdos gerados por inteligência artificial.A vítima nem sempre consegue romper com a relação de violência. Umas vezes por não ter consciência do abuso, outras por não se sentir segura para revelar o que acontece, explica a especialista. E quando tenta extinguir o contacto, o agressor pode exigir informações de colegas.A Linha Internet Segura é um recurso essencial para proteger crianças e jovens, garantindo apoio imediato às vítimas e contribuindo para a remoção célere de conteúdos ilegais da internet. Carolina Soares alerta os cuidadores para estas situações, sublinhando que, quando os jovens percebem a desconfiança, tendem a eliminar os conteúdos, ou até mesmo o próprio agressor. Por isso, o ideal é preservar imediatamente as provas e não contactar diretamente com a pessoa agressora.