Desde o início de 2025, e até 18 de novembro, foram registadas 82
queixas por abuso sexual de crianças, quatro por abuso sexual de menores
dependentes, 23 inquéritos por pornografia de menores e 14 detenções
por crimes sexuais contra menores nos Açores, o dobro do registado no
ano passado. Os dados foram avançados pela Polícia Judiciária ao
Açoriano Oriental.Relativamente à distribuição das detenções
realizadas ainda neste ano, cinco ocorreram em São Miguel, três no
Faial, três na Terceira, duas no Pico e uma na Graciosa. Em 2024 tinham
sido detidas sete pessoas: quatro em São Miguel, uma na Terceira, uma
no Faial e uma em São Jorge.Em 2024, os registos de crimes de abuso
sexual de crianças e menores abrangeram sete ilhas: 60 em São Miguel; 20
na Terceira; nove no Pico; sete no Faial; dois na Graciosa; dois nas
Flores e um em São Jorge.A divulgação destes números coincidiu com a
realização do webinar “Entre cliques e ameaças: crimes sexuais contra
crianças”, organizado pela Secretaria Regional da Saúde e Segurança
Social, através do Comissariado dos Açores para a Infância - CAI. A
iniciativa contou com as intervenção de Gerson Duarte, inspetor da
Polícia Judiciária nos Açores, e de Carolina Soares, gestora da Linha
Internet Segura e coordenadora da Unidade de Cibercrime da Associação de
Apoio à Vítima - APAV.Durante a sessão, o presidente do CAI,
Emanuel Areias, anunciou a intenção de criar, no próximo ano, um painel
constituído por crianças e jovens. O objetivo é que possam participar
ativamente na discussão e na resolução de problemas, reforçando o
envolvimento das próprias crianças nas decisões que as afetam.O quarto pode não ser um espaço seguro O
mundo digital tornou-se um espaço de grande vulnerabilidade para
crianças e jovens, alerta Carolina Soares. Segundo a especialista, mesmo
em casa e na presença dos pais, uma criança pode estar exposta a
violência sexual, grooming e extorsão, através do próprio telemóvel que se transformou numa “arma silenciosa”.O grooming é
um dos principais perigos, o agressor constrói uma relação de confiança
ao longo do tempo, explora os interesses da criança ou do jovem e
gradualmente envolve a vítima em conversas sexuais. Pode exigir
conteúdos cada vez mais específicos e nem sempre existe a intenção de
trazer esta relação para o contexto real, ou seja querer o contacto
físico.Caso a criança rompa o vínculo, o agressor tende a
reaparecer sob uma nova identidade, mas desta vez com conhecimento dos
limite e preferências do jovem.Outro risco é extorsão sexual, em que
a intimidade é criada rapidamente, muitas vezes em poucas horas, e a
conversa é direcionada para conteúdos sexuais. O agressor ameaça expor
imagens da vítima para obter novos conteúdos, participação em atos
sexuais ou cumprir outras exigências, como o pagamento de dinheiro.Gerson
Duarte revela que já existe alterações no comportamento dos opressores
face à extorsão sexual. Existem casos em que o objetivo já não passa por
exigir quantias monetárias, mas sim utilizar as contas bancárias de
adolescentes para o branqueamento de capitais.A especialista referiu
ainda que a partilha de imagens íntimas sem consentimento também é
crime, assim como conteúdos gerados por inteligência artificial.A
vítima nem sempre consegue romper com a relação de violência. Umas vezes
por não ter consciência do abuso, outras por não se sentir segura para
revelar o que acontece, explica a especialista. E quando tenta extinguir
o contacto, o agressor pode exigir informações de colegas.A Linha
Internet Segura é um recurso essencial para proteger crianças e jovens,
garantindo apoio imediato às vítimas e contribuindo para a remoção
célere de conteúdos ilegais da internet. Carolina Soares alerta os
cuidadores para estas situações, sublinhando que, quando os jovens
percebem a desconfiança, tendem a eliminar os conteúdos, ou até mesmo o
próprio agressor. Por isso, o ideal é preservar imediatamente as provas e
não contactar diretamente com a pessoa agressora.