Autor: Lusa/AO Online
Segundo o arqueólogo e pré-historiador de arte do PAVC, António Martinho Baptista, o sítio era constituído por dois painéis verticais em granito “ambos decorados com pinturas pós-glaciares em tons de vermelho” que foram “apagadas”.
"A mais interessante figura” do conjunto era “uma figura zoomórfica em estilo seminaturalista, a fazer lembrar algumas das representações do Côa e até do Tejo”.
“Esta figura parece ter representado uma cerva”, mas “a presença de uma longa cauda levou inicialmente à sua classificação como um equídeo, o que a tornaria ainda mais rara no contexto da nossa arte esquemático-simbólica”, admitiu.
O arqueólogo apontou que “a pequena cabeça perfilada em V, o pescoço fino e o corpo ovalado” do animal representado, remetem “para a forma tipológica de um cervídeo fêmea”.
A figura pré-histórica “foi completamente destruída, tendo sido lavada e repicada com a clara intenção de a fazer desaparecer, o que de facto foi conseguido”, disse, considerando que se trata de um “crime de lesa-arqueologia”, indicando que os seus autores “apagaram mais de cinco mil anos de História”.
António Martinho Baptista, que foi director do extinto Centro Nacional de Arte Rupestre (CNART), relatou que o achado estava em “duas pequenas rochas” que constituam uma espécie de “abrigo” e foi encontrado por um casal residente em Malhada Sorda.
Referiu que após uma primeira deslocação que fez ao sítio, em 2002, “os dois painéis ficaram a aguardar uma melhor oportunidade para o seu estudo”, oportunidade que já não se verificou dada a destruição que constatou em Abril deste ano.
Por isso, o caso revela “um vandalismo gratuito, sem sentido”, e que informou a direcção do PAVC do sucedido.
António Martinho Baptista, que também denunciou o caso, num blogue pessoal na Internet, afirmou à Lusa que “pode haver mais pinturas mas uma representação com aquelas características, não é vulgar”.
“Às vezes, a ignorância é o melhor caminho para salvaguardar estas coisas. É pena haver pessoas com a má intenção de estragarem”, desabafou, admitindo tratar-se de “um crime de lesa-arqueologia que não pode nem deve ficar impune”.
Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Almeida, António Baptista Ribeiro, disse que teve conhecimento do sucedido através do casal de Malhada Sorda que fez a descoberta e que “de imediato” comunicou o caso ao PAVC.
“Da parte da autarquia nada mais havia a fazer, a não ser denunciar a situação às autoridades competentes, neste caso o PAVC”, referiu.
O autarca assumiu tratar-se de uma ocorrência que o “preocupa” e disse que “o acto criminoso significa uma perda irreparável” para o património histórico concelhio.