Desinformação, imagens manipuladas e insultos aos media marcam campanha
EUA/Eleições
22 de out. de 2024, 12:33
— Ana Rita Guerra/Lusa/AO Online
A história, que teve
origem em rumores no Facebook, foi refutada por autoridades da cidade de
Springfield, mas continua a ser repetida por Trump e pelo seu candidato
a vice-presidente, J.D. Vance, num dos exemplos mais relevantes
da desinformação que tem marcado a campanha presidencial nos Estados
Unidos.De acordo com a plataforma de
verificação noticiosa NewsGuard, 39 narrativas falsas ligadas à eleição
foram publicadas em vários sites desde 01 de setembro, com sete a
aparecerem na última semana.Entre os
exemplos de falsidades propagadas por diversos sites está a notícia
falsa de que um vídeo mostra um homem que acusou o candidato democrata a
vice-presidente Tim Walz de o molestar em 1997. Outra
narrativa falsa mostra Trump com um cheque gigante de 1.300 dólares
para vítimas dos furacões Milton e Helene e uma outra alega que Kamala
Harris estava filiada no Partido Comunista Soviético. “Desde
o final de agosto de 2024, depois de o ex-presidente Donald Trump e da
vice-presidente Kamala Harris terem aceitado as nomeações dos partidos, a
NewsGuard identificou uma média de seis novas alegações falsas
relacionadas com a eleição por semana, bem como 318 sites que promovem
essas falsas narrativas”, indicou a plataforma. Há
1.238 sites com inclinação partidária “mascarados” de meios de
comunicação locais neutros, identificou a NewsGuard, sendo que muitos
são “secretamente financiados por organizações políticas sem informarem
os leitores”. Uma tendência crescente
neste ciclo eleitoral é a circulação nas redes sociais de ‘deep fakes’,
imagens criadas por modelos de Inteligência Artificial generativa. Um
exemplo, partilhado por Donald Trump na sua rede Truth Social, mostrava o
apoio de Taylor Swift e dos seus fãs (Swifties) à candidatura
republicana, quando na verdade a cantora apoia Kamala Harris. Mas
o candidato acusou a oponente democrata de manipular imagens para
mostrar comícios com grandes multidões, algo que os meios de comunicação
presentes refutaram. Nos comícios que tem
dado em estados críticos, como Pensilvânia e Wisconsin, Donald Trump
continua também a defender argumentos que não correspondem à verdade,
entre os quais que há imigrantes ilegais a votar, que o Irão espiou a
sua campanha e passou a informação a Kamala Harris, que a votação
antecipada é usada por autoridades para cometer fraude, que a Casa
Branca está por detrás dos seus processos criminais e que a votação por
correspondência é insegura e fraudulenta.Outro
tema que está a causar um aumento da desinformação é a destruição
causada pelos furacões Milton e Helene. A congressista Marjorie Taylor
Greene clamou online que o governo consegue controlar a meteorologia e
circulou um mapa que questiona porque é que os furacões só atingiram
regiões republicanas.Têm circulado
ainda mentiras sobre o apoio dado pela agência federal de emergências
(FEMA), sendo que Donald Trump propagou várias delas na sua rede social e
em comícios. Em resultado disso, trabalhadores da agência receberam
ameaças de morte na Carolina do Norte e o Centro para Direitos Civis e
Tecnologia emitiu esta segunda-feira um parecer instando as redes
sociais a resolverem o problema. A
campanha do ex-presidente tem sido marcada não apenas por um volume
significativo de alegações desmentidas mas também pela hostilidade
crescente para com jornalistas e o cancelamento de diversas
entrevistas. Depois do debate presidencial
entre Trump e Harris, o ex-presidente insultou o moderador da ABC News
David Muir, que desmentiu em direto algumas afirmações do republicano.
Decidiu também cancelar a aparição no programa da CBS “60 Minutes” e
disse que a estação deveria ver a sua licença revogada por ter “editado”
a entrevista com Kamala Harris, acusando-a de interferência eleitoral.Jessica
Rosenworcel, presidente da comissão que gere as licenças de comunicação
nos Estados Unidos (FCC) recusou a possibilidade, clarificando que uma
estação não arrisca a sua licença só porque um candidato não gosta da
cobertura noticiosa. Trump optou ainda por
cancelar entrevistas com a NBC e a CNBC, além de ter decidido não ir ao
programa Shade Room, que recentemente falara com Kamala Harris. A duas semanas das eleições, os dois candidatos estão tecnicamente empatados nas sondagens.