Desigualdade salarial obriga portuguesas a trabalhar mais 54 dias do que os homens
8 de nov. de 2019, 09:42
— Lusa/AO Online
Em entrevista à agência Lusa, a propósito do
Dia Nacional da Igualdade Salarial, que se assinala hoje, a presidente
da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) destacou
que nos últimos quatro anos Portugal tem evoluído de forma positiva na
diminuição das desigualdades salariais entre mulheres e homens.“Sobretudo
porque com a retoma da economia o salário mínimo aumentou e nós sabemos
que o maior grupo de pessoas que recebe salário mínimo são mulheres, o
que significa naturalmente que a disparidade diminuiu”, apontou Joana
Gíria.Outro fator que contribuiu para essa
diminuição foi a “desvalorização do salário dos homens durante o
período de crise e que ainda não foi totalmente retomada”.A
presidente da CITE explicou que em Portugal o Dia da Igualdade Salarial
assinala-se simbolicamente em 08 de novembro, porque marca o número de
dias em que as mulheres não são pagas face ao que é o seu rendimento.“Havendo
uma disparidade de 14,8% de rendimento em desfavor das mulheres,
fazendo as contas, são 54 dias por ano que as mulheres teriam de
trabalhar a mais para atingirem os rendimentos dos homens. Ou, de outro
modo, os homens poderiam deixar de trabalhar no dia 08 de novembro e as
mulheres teriam de continuar até ao fim do ano para receberem o mesmo
salário”, referiu.Além disso, existe um
problema de tetos de vidro, ou seja, profissões às quais “as mulheres
praticamente não ascendem”, como cargos de chefia ou de direção.Sobre
este fenómeno, a presidente da CITE apontou que o país não só se
apercebeu do problema, como reagiu e tentou combater através da criação
de quotas em cargos diretivos a serem preenchidas por mulheres.“Para
além do teto de vidro, temos as chamadas paredes de vidro, ou seja, nós
temos a segregação vertical e a segregação horizontal, o que significa
que há mulheres que quando escolhem profissões, tendencialmente escolhem
profissões que são a extensão do cuidado da casa e das tarefas
domésticas”, explicou.Joana Gíria deu como
exemplo as profissões ligadas à área da saúde ou da educação, nas
quais, quando as mulheres estão presentes, ganham salários mais baixos
“porque a sociedade entende que essas tarefas lhe são naturalmente mais
fáceis de desempenhar” e, por isso, não valoriza o trabalho feito.De
acordo com a responsável pelo CITE, a realidade nacional, tal como a de
todo o mundo, ainda é a de cargos de chefia sobretudo ocupados por
homens, que têm igualmente acesso às remunerações mais elevadas.Joana
Gíria sublinhou que haver um fosso salarial baixo não é necessariamente
um sinal positivo, dando como exemplo a Roménia, o país da Europa com o
fosso salarial mais baixo, mas à custa do facto de as mulheres serem
pouco representativas no mercado de trabalho. Ou, por oposição, o caso
de alguns países nórdicos com fossos salariais “altíssimos, porque as
mulheres trabalham a tempo parcial e os homens não”.As
estatísticas europeias, da responsabilidade do Eurostat, apontam para
as mulheres terem, em média, salários 16% mais baixos do que os dos
homens, um valor que sobe ligeiramente para os 16,3% no caso português.Joana
Gíria esclareceu que a diferença deste valor para com os 14,8% das
estatísticas nacionais tem apenas a ver com diferentes formas de
apuramento de dados, já que para o Eurostat contam os salários brutos,
por hora, de empresas com mais de 10 trabalhadores, enquanto Portugal
tem em conta a média de salários de homens e mulheres de todas as
empresas.Para a presidente da CITE, tanto a
promoção da igualdade salarial, como a promoção de mulheres a cargos de
topo “são medidas fundamentais” para se encontrar “o equilíbrio”,
destacando também que “uma das medidas mais bem conseguidas até agora
foi a criação da licença parental partilhada”.