Desigualdade de género é "mais preocupante" nos Açores
10 de mar. de 2021, 15:27
— Lusa/AO Online
“Nós não temos
dúvida nenhuma de que a situação regional é muito mais preocupante do
que a situação nacional. Aliás, a realidade também demonstra isso. Se
nós formos ver os pedidos de apoio que são feitos às entidades
regionais, a esmagadora maioria deles são feitos por mulheres e muitas
delas mulheres trabalhadoras”, afirmou o coordenador da USAH, Vítor
Silva, numa conferência de imprensa, em Angra do Heroísmo.Citando
dados de estudos de âmbito nacional sobre as consequências da pandemia
nas condições laborais, em especial nas mulheres, Vítor Silva admitiu
não ter dados concretos sobre a situação nos Açores, mas defendeu que os
efeitos negativos serão mais acentuados na região.“Sendo
esta a situação nacional, nós não temos dúvidas nenhumas em afirmar que
a situação regional é ainda pior do que essa”, frisou, acrescentando
que é difícil traçar o cenário nos Açores, “porque as entidades não
disponibilizam esses dados”.O sindicalista
justificou a convicção com o facto de nos Açores a entrada das mulheres
no mercado de trabalho ter sido mais tardia e de haver uma maior
desigualdade nos salários.“Um dos grandes
problemas que os Açores tiveram ao longo dos tempos e que contribuiu
para agravar a situação de pobreza e exclusão social foi exatamente as
dificuldades no acesso ao trabalho por parte das mulheres. E agora que
esta situação está a ser ligeiramente ultrapassada, existe um outro
problema que tem a ver com os baixos salários auferidos pelas mulheres
nos Açores”, frisou.Segundo o relatório da
Organização Internacional do Trabalho sobre os salários em 2020-2021,
de entre os 28 países europeus estudados, Portugal foi o que registou
maiores perdas salariais no primeiro e segundo trimestre de 2020, mas
enquanto os homens registaram uma quebra média de 11,4%, as mulheres
verificaram uma redução média de 16%.“São
também as mulheres que auferem, em maior número, o salário mínimo. E, se
a situação já era grave, com a pandemia piorou. Com as situações de
‘lay-off’, dispensas para apoio extraordinário à família, entre outras,
as mulheres sofreram uma perda salarial na ordem dos 16% no ano de 2020.
Isto num quadro em que a maioria das trabalhadoras desempregadas não
tem acesso a prestações de desemprego”, salientou o coordenador da USAH.No
início da pandemia de covid-19, chegavam à União de Sindicatos de Angra
do Heroísmo, afeta à CGTP, queixas sobretudo relacionadas com a perda
de emprego, em situações de contratos precários, mas agora são mais os
casos de “desregulação dos horários de trabalho”.“Tem
havido um acréscimo muito significativo das horas que as trabalhadoras
fazem, o que implica que não tenham depois tempo para conciliar a vida
profissional com a vida pessoal. Ainda vivemos infelizmente numa
sociedade muito machista e aqui na região essa situação é notória. E uma
mulher depois de fazer 10 e 12 horas numa empresa ainda vai para casa
fazer mais cinco ou seis horas de serviço”, alertou.Vítor
Silva defendeu que é preciso denunciar a desigualdade de género e
combatê-la, não apenas no Dia Internacional da Mulher, que se assinalou
na passada segunda-feira.“É preciso tomar
medidas diárias para que essa situação possa ser alterada. E também se
combate alertando os próprios patrões de que há pequenas situações que
podem contribuir para nós evoluirmos significativamente. Uma delas é
consagrar nos contratos coletivos de trabalho cláusulas que promovam a
igualdade de género”, reiterou.