Desengane-se: Jesus nasceu na Bretanha e a 8 de dezembro
24 de dez. de 2017, 12:00
— Miguel Bettencourt Mota
Mas o condão que o senhor Messias tem de fazer da sua arte
algo de ‘muito à frente’ não se prende com o facto de ter antecipado o
nascimento do rei cristão dezassete dias. O que é ‘muito à frente’ naquele
presépio, inaugurado a 8 de dezembro, é o facto de replicar de forma fiel
boa parte do património edificado e cultural daquela freguesia da costa norte
micaelense. Os novos e antigos ofícios, bem como as vivências do Pilar também
não foram esquecidos, e tudo graças ao talento do senhor Messias.
O cartão e a madeira são os suportes de eleição do
agricultor, que se recusa a ser identificado como artesão, pese embora o facto
de se ver nascer das suas mãos peças que poderiam ter sido feitas por um.
“Venho fazendo isto há dez, doze anos, mais coisa, menos
coisa (…) Vou fazendo devagarinho, vou guardando em casa e pelo Natal faço mais
qualquer coisa adequado ao presépio”, disse Messias Freire, em entrevista a
este jornal.
O que lhe “cai mais em graça é fazer as casinhas”, confessou,
mas quem subir à sala de reuniões daquela Junta de Freguesia terá muito mais para
ver.
Para além dos moinhos, da igreja de Nossa Senhora do Pilar,
da ermida do Espírito Santo da Grota da Figueira e do granel, pode-se ainda admirar
uma plantação de inhames e duas serrações de madeira: uma “à moda antiga” e
outra como as que existem “hoje em dia” com os trabalhadores a tirarem o devido
proveito da eletricidade. “Tudo feito à mão”, disse o criador. “Tudo feito do
coração”, arriscamos nós.
Os bonecos de barro que constam naquele presépio não foram
criados por Messias Freire; esse mérito deve ser remetido para os ‘verdadeiros’
artesãos. Nesse capítulo, o que deve ser destacado da intervenção do
bretanhense é a originalidade com que as usou, redesenhando o cenário bíblico
do nascimento de Jesus.
O habitual imaginário ainda lá está preservado, mas há
foliões do Espírito Santo por entre as figuras ‘que marcham em tropel’ para
visitar a Sagrada Família e também uma banda de música no coreto, enquanto o sino
dobra na torre da igreja da freguesia.
Este foi o primeiro ano que o senhor Messias expôs o seu
presépio ao público e, ao que nos deu conta, o “antigo gosto” tem suscitado o
interesse e a admiração das pessoas. Afinal, têm sido várias as dezenas de pessoas que o têm
visitado e as encomendas vão dando mostra do entusiasmo.
“Já tenho duas encomendas: uma é para o estrangeiro (uma
senhora quer que eu lhe faça a casa dos avós) e outra é de uma senhora
aqui da freguesia, que também quer que eu lhe faça umas casinhas para
o presépio (uma casinha imitando a sua, uma imitando a dos seus pais)”, sinalizou.
O presépio movimentado vai estar em exposição
até ao dia 13 de janeiro.