Desconhece-se paradeiro de filhos de ex-embaixador iraquiano
19 de jan. de 2018, 16:33
— Lusa/AO online
“(…)
Antes de pedir a intervenção da Interpol (Organização Internacional de
Polícia Criminal), seguindo a via hierárquica, se solicitará à
Procuradoria-Geral da República que se digne a proceder à tradução da
acusação e, de acordo com os pertinentes procedimentos e os canais
próprios, para que se digne diligenciar junto das autoridades iraquianas
pelos bons ofícios para notificação da acusação, por serem os arguidos
cidadãos iraquianos, filhos de funcionário da República do Iraque, com
quem continuarão a residir em domicílio e país que se desconhecem”,
refere o despacho de acusação do Ministério Público (MP), a que a
agência Lusa teve esta sexta-feira acesso.O
MP deduziu acusação contra Ridha e Haider, filhos do antigo embaixador
iraquiano em Lisboa, que à data dos factos tinham 17 anos, por tentativa
de homicídio do jovem Rúben Cavaco, na madrugada de 17 de agosto de
2016, em Ponte de Sor, distrito de Portalegre.“Nos
presentes autos não foi possível constituir arguidos e interrogar nessa
qualidade Haider Saad Ali e Rhida Saad Ali, desconhecendo-se o seu
domicílio atual e país de residência, tendo apenas sido informado nos
autos que saíram de território nacional português, pelo que em Portugal
não gozam de imunidade diplomática. Desse modo, adquirem aqueles o
estatuto de arguidos com a acusação e prosseguem os autos sem o
respetivo interrogatório, por impossibilidade de os notificar”, explica a
procuradora Aurora Rodrigues.Na
quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto
Santos Silva, disse, numa resposta à Lusa, que realizará
“imediatamente”, pela “via diplomática apropriada”, a diligência que a
Procuradoria-Geral da República peça no processo que envolve os filhos
do antigo embaixador iraquiano, acusados de tentativa de homicídio.Os
filhos do embaixador tinham imunidade diplomática, ao abrigo da
Convenção de Viena, e o Governo português pediu ao Iraque, por duas
vezes, o levantamento da imunidade para que os jovens pudessem ser
ouvidos em interrogatório e na qualidade de arguidos sobre o caso das
agressões.Em
ambas as situações, as autoridades iraquianas “suscitaram questões
jurídicas” e acabaram por retirar, em 2017, o então embaixador em
Lisboa.Assim,
ao longo de todo o processo, devido à imunidade diplomática que as
autoridades iraquianas sempre se recusaram a levantar, nunca foi
possível interrogar os filhos do embaixador nem aplicar alguma medida de
coação.O
despacho de acusação acrescenta que “deverá ser solicitado às
autoridades iraquianas que no momento da notificação seja lavrado termo
de identidade e residência aos arguidos, para o que deverá ser remetido
formulário próprio”.“Não
obstante não ter sido possível constituir arguidos e interrogar Haider
Saad Ali e Ridha Saad Ali e de os mesmos se terem ausentado de Portugal,
desconhecendo-se o seu atual domicílio e país de residência, entendo
que tal decorre da imunidade diplomática de que beneficiavam e da saída
do país do então senhor embaixador da República do Iraque, de quem são
filhos, e que essas circunstâncias não dependeram da sua vontade”,
sublinha a procuradora do MP. Assim,
a magistrada entende que o termo de identidade e residência é a “medida
cautelar bastante”, até porque, sublinha, “não se afigura que exista
receio da prossecução da atividade delituosa”, razão pela qual “deverá
ser lavrado o termo de identidade e residência”.Segundo
a acusação do MP, os arguidos, "na sequência de uma discussão e
confrontos físicos anteriores, agrediram de forma violenta a vítima,
derrubando-a e atingindo-a com murros e pontapés direcionados em
especial à cabeça e à face, deixando-a inanimada e só devido à pronta
intervenção médico-cirúrgica não sobreveio a morte".Os
factos ocorreram na madrugada de 17 de agosto de 2016, quando o jovem
Rúben Cavaco foi espancado em Ponte de Sor pelos filhos do embaixador do
Iraque em Portugal, Haider e Ridha, gémeos que tinham, à data, 17 anos.O
jovem sofreu múltiplas fraturas, tendo sido transferido no mesmo dia do
centro de saúde local para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e
chegou mesmo a estar em coma induzido. Acabou por ter alta hospitalar no
início de setembro de 2016.