Descoberto mecanismo que diminui dose de fármaco e tem igual benefício no combate ao cancro
17 de jan. de 2023, 10:56
— Lusa/AO Online
Em
comunicado, o instituto do Porto adianta hoje que os resultados do
estudo, publicado na revista Journal of Cell Biology e conduzido pelo
investigador Helder Maiato são "evidentes".O
mecanismo descoberto permite diminuir "em cerca de metade" a dose do
fármaco usado para combater o cancro da mama e do ovário, designado
taxol. "Menos medicamento, os mesmos benefícios, menos efeitos secundários e menor resistência à terapia", afirma.As
descobertas tiveram por base "uma das estruturas que compõem as células
e que são fundamentais no processo de divisão celular", nomeadamente,
os microtúbulos [estruturas que funcionam como uma espécie de GPS
celular e orienta os cromossomas na direção correta] e a proteína que os
constitui, intitulada tubulina. "Neste
estudo, demonstrou-se que em alguns cancros este sistema de navegação, o
chamado código da tubulina, está alterado", refere o instituto. Citado
no comunicado, o investigador Helder Maiato explica que a tubulina é
"um alvo terapêutico para vários tipos de cancro" e que todas as
terapias usadas para combater o cancro da mama e dos ovários "usam um
fármaco que atua precisamente na tubulina". "Apesar
de ter um sucesso elevado, as terapias baseadas no taxol têm efeitos
secundários. Primeiro, porque não atuam só nas células cancerígenas, mas
sim em todas as células, com efeitos particularmente relevantes nas
células do sistema nervoso periférico, e segundo porque os doentes
acabam por desenvolver resistência ao taxol", acrescenta. De
acordo com o investigador, "mais de 90%" das mortes por cancro devem-se
a resistência às terapias que estão disponíveis, "daí a necessidade
premente de encontrar fármacos mais eficientes que usam mecanismos
alternativos e melhorem a sobrevivência dos doentes". Também
citado no comunicado, o primeiro autor do estudo, Danilo Lopes,
acrescenta que o mecanismo descoberto no código da tubulina "permite
diminuir para cerca de metade a dose do taxol, mantendo o mesmo efeito"
e, simultaneamente, "aumentar a sensibilidade das células a este
fármaco, diminuindo assim os efeitos secundários". Os
investigadores identificaram ainda um "novo biomarcador" que permitirá
perceber como é que o doente oncológico irá reagir à terapia com taxol,
estando já a ser implementado um estudo para validação clínica."As
pessoas que apresentam níveis elevados dessa alteração na tubulina têm
uma boa probabilidade de responder bem ao taxol", esclarece Danilo
Lopes.Segundo o i3S, este biomarcador
permitirá aos clínicos usarem o taxol de "forma mais precisa, ou seja,
de acordo com a resposta expectável do doente, e, eventualmente,
evitá-lo quando as hipóteses de sucesso são muito reduzidas". A
investigação foi financiada, em diferentes projetos, pelo European
Research Council da Comissão Europeia, pela Fundação para a Ciência e
Tecnologia (FCT), pela Fundação La Caixa, e pelo Norte 2020 em parceria
com o Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional.