Descoberta alteração no sangue que prevê aparecimento da doença de Crohn
27 de ago. de 2024, 10:09
— Lusa
Em comunicado, o instituto
esclarece hoje que foi descoberta “uma assinatura única de glicosilação
em anticorpos que é detetável no sangue muitos anos antes do
desenvolvimento de sintomas e do diagnóstico” da doença de Crohn.A investigação, liderada por Salomé Pinho do i3S, foi publicada na revista cientifica Nature Immunology.A
doença de Crohn é uma doença intestinal inflamatória crónica que causa
inflamação do trato digestivo. Os sintomas mais comuns são diarreia, dor
abdominal, fadiga e perda de peso. A doença pode afetar todos os grupos
etários, mas é sobretudo diagnosticada em adolescentes e jovens
adultos.Os investigadores começaram por
estudar a inflamação intestinal que caracteriza os doentes com doença de
Crohn, tendo centrado atenções na caracterização da composição dos
glicanos (açúcares complexos) que modificam os anticorpos em circulação.Para
tal, foram analisados milhares de soros provenientes de amostras de
sangue de indivíduos (militares) numa fase pré-clínica até seis anos
antes do desenvolvimento da doença, fruto de uma colaboração com o
Hospital Mount Sinai (Nova Iorque) e com o Departamento de Defesa dos
Estados Unidos.As amostras foram recolhidas em diferentes momentos: num mais próximo do diagnóstico e quatro e seis anos antes do diagnóstico. Os
investigadores analisaram também amostras de sangue de doentes com a
doença já estabelecida, assim como de familiares em primeiro grau dos
doentes e de indivíduos saudáveis, no âmbito de uma colaboração com os
serviços de gastroenterologia do Centro Hospitalar Universitário Santo
António (Porto), Hospital Beatriz Ângelo e Hospital da Luz (Lisboa).Em
colaboração com investigadores da Croácia foi realizada a
caracterização do perfil de glicosilação dos anticorpos em circulação,
tendo a equipa encontrado uma "alteração única" na composição de
glicanos dos anticorpos circulantes e verificado que a alteração é
detetada até seis anos antes do diagnóstico e que se mantém constante
durante todo o período que antecede os sintomas."Esta
descoberta pioneira abre portas para a identificação de um biomarcador
não invasivo capaz de prever o diagnóstico da doença de Crohn e, desta
forma, estratificar o risco de desenvolver a doença”, salienta o i3S.Os
investigadores descobriram também que os anticorpos ASCA (detetados em
40 a 60% dos doentes) "têm uma glicoforma que é patogénica e que começa a
montar a resposta inflamatória muitos anos antes do diagnóstico da
doença", afirma, citada no comunicado, a investigadora Salomé Pinho. Também
no comunicado, Joana Gaifem, uma das primeiras autoras do estudo,
salienta que foi identificada “uma potencial causa ou uma das causas
desta doença, assim como um potencial alvo de futuras abordagens para a
prevenção da doença de Crohn".No âmbito do
projeto europeu GlycanTrigger, liderado por Salomé Pinho, e com base
nas descobertas, os investigadores vão avançar no próximo ano com um
ensaio clínico em doentes com a doença de Crohn que removeram
cirurgicamente parte do intestino. O
objetivo é "modular a glicosilação" e tentar perceber qual o impacto a
nível do sistema imunitário do intestino e do microbioma intestinal,
explica Joana Torres, gastrenterologista do Hospital da Luz, onde, no
início do próximo ano, arranca o recrutamento dos doentes.