Derrocadas mataram 29 pessoas há duas décadas na Ribeira Quente
30 de out. de 2017, 07:12
— Lusa/AO Online
Às primeiras horas do dia 31 de outubro
de 1997, um mar de lama e de terras engoliu dezenas de casas junto à
canada da Igreja Velha, a zona mais afetada, num cenário de horror,
agravado pela obstrução do único acesso rodoviário à freguesia, onde
mora a segunda maior comunidade piscatória da ilha de São Miguel depois
de Rabo de Peixe, no concelho da Ribeira Grande.A situação
agravou-se pelo facto de a única estrada que liga a freguesia ao resto
da ilha ter ficado inacessível, mas também sem eletricidade, água e
comunicações.O trabalho de resgate de corpos, incluindo de
famílias inteiras, foi dificultado pela chuva constante, numa comunidade
de cerca de mil pessoas onde todos se conheciam.Na ocasião, o
pároco local, o padre Silvino Amaral, desempenhou um papel preponderante
na motivação da população que temia acontecimentos idênticos.“Eles
estão fortemente marcados pela morte dos seus parentes e jamais
esquecerão o que aconteceu”, sublinhou na altura o padre Silvino Amaral,
que liderou o processo de apoio aos sinistrados e foi condecorado pelo
presidente da República Jorge Sampaio.Nas semanas seguintes à
catástrofe, quando se tentava regressar à normalidade, o maior receio
das autoridades locais era a possibilidade de muitas famílias
abandonarem a freguesia da costa sul de São Miguel, mas a esmagadora
maioria preferiu ficar.Na sequência da catástrofe, vários
investimentos realizados, nomeadamente a reabilitação do parque
habitacional, a construção de uma avenida marginal de cerca de um
quilómetro que desemboca no centro nevrálgico da localidade e o porto de
pescas foram decisivos para o renascer da freguesia.Após a
tragédia, a Ribeira Quente conheceu a solidariedade, incluindo de
emigrantes açorianos radicados nos Estados Unidos da América e Canadá.Na
zona mais atingida pelas derrocadas, a poucos metros do cemitério, foi
proibida a construção e feita uma área ajardinada com um campo de jogos
descoberto.Ao cimo da rua uma lápide guarda o nome das 29 vítimas mortais.Além
dos 29 mortos, ficaram feridas sete pessoas e outras 69 desalojadas, de
acordo com um relatório do Instituto de Proteção e Segurança do Cidadão
do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia que estimou os
prejuízos em cerca de 21 milhões de euros.O documento, datado de
2003, adianta que a freguesia do concelho da Povoação esteve isolada
mais de 12 horas, tendo naquela manhã sido medidos 153,1 milímetros de
precipitação.A localidade, que no verão atrai muitos visitantes
devido à praia, considerada como uma das mais bonitas dos Açores, acabou
por ver o turismo afetado, dado que o desastre atingiu parte da zona
balnear, sublinha o mesmo relatório.O documento, que elenca as
implicações socioeconómicas deste desastre natural, destaca também a
construção de um heliporto para evitar novo isolamento da freguesia em
caso de novas derrocadas, atendendo à impossibilidade de construir outro
acesso rodoviário à Ribeira Quente.