Departamento de Estado dos EUA destaca queixas de violência policial em Portugal
20 de mar. de 2023, 20:47
— Lusa
“Enquanto a Constituição e a
lei proíbem a tortura e outros atos cruéis, degradantes ou tratamento
ou punição desumana, houve relatos credíveis de uso excessivo de força
pela polícia e de maus-tratos e outras formas de abuso de prisioneiros
por guardas prisionais”, pode ler-se no documento do departamento
governamental dos Estados Unidos da América.Na
base desta análise estão os dados de 2021 da Inspeção-Geral da
Administração Interna (IGAI), que reportou a existência de 1.174
denúncias de maus-tratos e abusos por parte da polícia e dos guardas
prisionais, sublinhando que este é “o número mais elevado desde 2012” e
que visaram, sobretudo, a atuação de PSP (565) e GNR (353).Na
sequência dessas queixas, o relatório refere que foram iniciadas 41
investigações disciplinares a elementos das forças de segurança, com as
punições a variarem entre repreensões, suspensões provisórias,
aposentação compulsiva com cortes na pensão, demissões ou penas
judiciais. Relativamente às prisões e
condições de encarceramento, o documento salientou também a existência
de relatórios “que levantaram preocupações em matéria de direitos
humanos”, considerando ainda que o excesso de tempo de prisão preventiva
para arguidos à espera de julgamento “continuou a ser um problema”,
embora sem exceder os limites legais previstos.“A
detenção foi geralmente atribuída a longas investigações e
procedimentos legais, ineficiência judicial ou falta de pessoal”,
sustenta o documento.Em termos criminais, o
Departamento de Estado assinalou o eco de suspeitas de corrupção e de
ilegalidades na contratação pública junto do poder central e local nos
meios de comunicação social, citando inclusivamente um caso recente que
motivou buscas na sede da Presidência do Conselho de Ministros.O
relatório observou igualmente que a violência baseada no género –
incluindo a violência doméstica – “continuou a ser um problema”, ao
notar que se tinham registado 20 mortes associadas a casos de violência
doméstica nos primeiros nove meses do ano, segundo dados de organizações
não-governamentais e da comunicação social.A
investigação do fenómeno dos abusos sexuais na Igreja Católica
Portuguesa também não passou ao lado do documento, que realçou as
centenas de testemunhos recolhidos pela Comissão Independente e a
abertura de inquéritos por parte do Ministério Público, além das
suspeitas de encobrimento por parte de membros da hierarquia católica.O
relatório do Departamento de Estado analisou ainda a proteção a
refugiados e vítimas de tráfico e realçou que houve peritos a
manifestarem “preocupação relativamente aos esforços do governo para
proativamente identificar as vítimas de tráfico” em Portugal. “As redes
de tráfico subsaariano utilizaram cada vez mais o país como rota para o
espaço Schengen para explorar crianças no tráfico sexual e em trabalhos
forçados”, lê-se no documento.