Dehonianos criam email para receber denúncias de abusos na congregação em Portugal
3 de out. de 2022, 10:47
— Lusa/AO Online
O
anúncio foi feito em comunicado publicado, na página da Província
Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) na internet,
após a divulgação, pelo jornal Público, de que José Ornelas, bispo de
Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP),
“está a ser alvo de investigações pelo Ministério Público por eventual
‘comparticipação em encobrimento’ de casos de abusos sexuais sobre
crianças acolhidas num orfanato dirigido por um padre dehoniano numa
cidade da província moçambicana da Zambézia”.No
comunicado, os Dehonianos, lembrando que a peça do jornal “refere
também ‘crimes ocorridos em Portugal’”, anunciam que eventuais denúncias
podem ser remetidas para o endereço escutarecuidar@dehonianos.org.“Os
Dehonianos em Portugal (…) reiteram o seu compromisso de proteger os
menores e outras pessoas vulneráveis, dispondo-se a colaborar com a
justiça, em âmbito civil e canónico, sempre a favor da verdade e da
justiça”, acrescenta a nota, manifestando “solidariedade” ao atual
presidente da CEP, “agradecendo todo o serviço prestado à Congregação ao
longo de 50 anos de consagração religiosa, muitos deles desempenhando o
sensível serviço de autoridade, com lealdade e competência”.Segundo
o Público, a Procuradoria-Geral da República recebeu a denúncia em
setembro deste ano através da Presidência da República, mas só na semana
passada “foi decidido avançar com a investigação” ao caso, que remonta a
2011, quando José Ornelas era o responsável máximo pelos Dehonianos. “Nessa
altura, um professor português ouviu de um aluno que frequentava o
Centro Polivalente Leão Dehon o relato de alegados abusos cometidos
sobre crianças no orfanato dirigido pelo padre Luciano Cominotti”,
revela o Público, acrescentando que o docente terá dado conhecimento do
caso a José Ornelas, tendo recebido duas cartas “a a agradecer ‘os
alertas’, dizendo que o padre Cominotti não estava sob sua autoridade,
mas da diocese, e que contra o padre Ilario Verri (diretor da escola)
não existiam quaisquer indícios”.Já este
ano, o professor enviou uma denúncia, agora visando o próprio bispo José
Ornelas por inação, ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de
Sousa, que a remeteu à Procuradoria-Geral da República.Em
comunicado emitido no sábado, a CEP confirma que, em 2011, José
Ornelas, na altura superior geral dos Padres Dehonianos, “recebeu
informações relativas a possíveis abusos cometidos no Centro Polivalente
Padre Leão Dehon, na cidade de Gurué, em Moçambique”.“Imediatamente,
deu indicações para que estas suspeitas fossem investigadas pelas
competentes autoridades locais da Congregação, as quais não encontraram
nenhuma evidência de possíveis abusos”, sublinha o comunicado,
acrescentando que “posteriormente, quer a Procuradoria Geral de
Moçambique, quer a Procuradoria italiana de Bergamo, em Itália, onde
residia um dos sacerdotes visados (cuja nacionalidade é italiana),
investigaram detalhadamente todas as situações e arquivaram essas mesmas
investigações, ilibando o missionário dehoniano em questão”.“O
Presidente da CEP declara todo o seu interesse em que qualquer caso
pendente seja investigado e esclarecido, declarando-se disponível para
toda a colaboração a fim de que esse objetivo seja conhecido”,
acrescenta o comunicado.Entretanto, José
Ornelas foi recebido no sábado em audiência, no Vaticano, pelo Papa
Francisco. Segundo fonte da diocese de Leiria-Fátima, o caso hoje
noticiado pelo jornal Público não terá sido o motivo da audiência, “que
já estava marcada há muito”.José Ornelas, de 68 anos, preside à CEP desde 16 de junho de 2020 e é bispo de Leiria-Fátima desde 13 de março deste ano.Ocupou o cargo de superior geral dos Dehonianos entre 27 de maio de 2003 e 06 de junho de 2015.Foi
José Ornelas que, no final de 2021, anunciou a criação de uma comissão
independente para o estudo dos abusos na Igreja Católica em Portugal,
que é coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e que deverá
apresentar as conclusões do seu trabalho em janeiro do próximo ano.