Défice orçamental cai para 0,4% do PIB no ano passado
24 de mar. de 2023, 19:13
— Lusa
"De acordo com os resultados provisórios
obtidos neste exercício, em 2022 o saldo das Administrações Públicas
(AP) atingiu -944,4 milhões de euros, o que correspondeu a -0,4% do PIB
(-2,9% em 2021)", refere o Instituto Nacional de Estatística (INE).O
Governo estimava, na proposta do Orçamento do Estado para 2023
(OE2023), um défice de 1,9% do PIB, mas o primeiro-ministro, António
Costa, e o ministro das Finanças, Fernando Medina, tinham já vindo a
sinalizar que acreditavam que seria inferior a 1,5%.Os
economistas consultados pela agência Lusa esperavam também que o saldo
orçamental negativo se situasse abaixo da meta oficial do executivo e o
Conselho das Finanças Públicas (CFP) reviu na terça-feira em baixa a sua
estimativa do défice em 2022 para 0,5% do PIB, face aos 1,3% que tinha
avançado em setembro do ano passado. No
relatório do “Procedimento dos Défices Excessivos”, divulgado hoje pelo
INE, o Governo mantém a estimativa do défice orçamental deste ano nos
0,9%, conforme previsto no Orçamento do Estado (OE) para 2023.Mantém
também a previsão, para este ano, de um rácio da dívida pública face ao
PIB de 110,8% (113,9% em 2022), previsão esta que poderá ser ou não
atualizada no cenário macro económico do Programa de Estabilidade, que
terá de dar entrada na Assembleia da República até 15 de abril.A
informação que integra o relatório do “Procedimento dos Défices
Excessivos” para 2022 e anos anteriores é da responsabilidade do INE no
que respeita à compilação da capacidade/necessidade líquida de
financiamento e do Banco de Portugal no que concerne à dívida bruta,
mas, para 2023, é da responsabilidade do Ministério das Finanças. "Para
o ano corrente (2023), as estimativas da capacidade/necessidade líquida
de financiamento, da dívida bruta e do PIB nominal são da
responsabilidade do Ministério das Finanças, tendo por base o cenário
macroeconómico e orçamental apresentado no Orçamento do Estado para
2023", refere o relatório do INE.Os dados
do organismo estatístico revelam que o défice orçamental diminuiu em
mais de 5.271 milhões de euros entre 2021 e 2022, uma “melhoria
significativa” que se refletiu, em contabilidade nacional, num
crescimento da receita (10,2%) superior ao da despesa (4,4%).“O
aumento da receita decorreu, essencialmente, da evolução positiva da
receita fiscal e contributiva, refletindo a recuperação da atividade
económica e do mercado de trabalho face a 2021, ainda condicionado pelo
contexto pandémico”, refere o INEAssim,
entre 2021 e 2022, a receita total das AP aumentou 10,2% (+9.800 milhões
de euros) e a receita corrente aumentou 11,3% (+10.600 milhões de
euros). “As três grandes componentes da
receita corrente aumentaram a ritmos diferentes, salientando-se o
acréscimo dos impostos sobre o património e o rendimento, que atingiu
24,1%”, detalha, acrescentando que “os impostos sobre a produção e a
importação aumentaram 11,8%, tendo as receitas com as contribuições
sociais subido 8,5%”.O INE destaca ainda
que a receita de capital diminuiu 28,8% face a 2021, ano em que se tinha
registado o reembolso da margem paga antecipadamente respeitante aos
empréstimos concedidos durante o período de ajuda externa (‘troika’). Na
estrutura da receita, o INE destaca, face a 2021, o aumento da
importância relativa dos impostos correntes sobre o rendimento e o
património (+2,7 pontos percentuais) e dos impostos sobre a produção e a
importação (+0,5 pontos percentuais), que “se reforçam como a principal
fonte de receita pública, correspondendo a mais de um terço da receita
total”. Em contrapartida, observa-se um decréscimo da quota das
contribuições sociais (-0,4 pontos percentuais). “No conjunto, o peso relativo da receita corrente aumentou 0,9 p.p. face ao ano anterior”, nota.No
que respeita à despesa, aumentou 4,4% entre 2021 e 2022, refletindo o
crescimento mais acentuado da despesa de capital (+15,0%) e mais
moderado na despesa corrente (+3,5%).Na
despesa corrente destaca-se o acréscimo registado nas prestações
sociais, exceto transferências sociais em espécie (+6,9%), que inclui o
pagamento do complemento excecional a pensionistas (cerca de 990 milhões
de euros), do apoio extraordinário a titulares de rendimentos e
prestações sociais (cerca de 640 milhões de euros) e de apoios a
famílias mais carenciadas (cerca de 370 milhões de euros).As
remunerações aumentaram 3,5%, em linha com a despesa corrente,
refletindo as atualizações salariais, as valorizações remuneratórias e o
crescimento do emprego.A despesa em juros
diminuiu 9,4%, refletindo essencialmente a menor despesa com os juros
dos empréstimos obtidos ao abrigo do Programa de Assistência Económica e
Financeira (devido à extensão do empréstimo do Fundo Europeu de
Estabilização Financeira (FEEF) ocorrida em julho de 2021) e mantendo a
tendência decrescente iniciada em 2015.Já o
aumento da despesa de capital entre 2021 e 2022 resultou do aumento da
formação bruta de capital (+7,5%) e das transferências de capital pagas
(+36,2%).Entre as transferências de
capital registadas em 2022, o INE salienta o apoio concedido pelo Estado
à TAP (com um impacto de 990 milhões de euros) e à Efacec (159 milhões
de euros) e os apoios concedidos pelo Governo Regional dos Açores à SATA
Air Açores, no montante de 197 milhões de euros. Para
a despesa de capital contribuiu ainda a conversão de ativos por
impostos diferidos (DTA) em crédito tributário (245 milhões de euros),
que em contabilidade pública está registada como redução de receita de
IRC.Ao contrário de 2021, o saldo
primário, correspondente ao saldo global líquido da despesa em juros,
foi positivo, tendo melhorado 4.800 milhões de euros, para +3.742
milhões de euros.