Défice comercial europeu com a China é insustentável
O défice comercial da União Europeia (UE) com a China é insustentável, alertou, em Pequim, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que considerou mesmo a relação comercial com a China como "um verdadeiro problema".

Autor: Lusa / AO online
"Temos um verdadeiro problema em termos do nosso comércio com a China, como dizemos aos nosso parceiro chineses, e eles reconhecem, o défice é um problema nas nossas relações", afirmou Durão Barroso, respondendo a perguntas dos alunos da Escola Central do Partido Comunista Chinês.

"A situação actual de crescente défice comercial europeu com a China não é sustentável. Precisamos de trabalhar juntos para, num espírito de reciprocidade, eliminar obstáculos ao acesso de bens e serviços em muitos sectores do mercado chinês", disse Barroso em discurso perante os futuros altos quadros do partido único que governa a China.

A UE, o maior parceiro comercial da China, queixa-se de que Pequim impõe demasiadas barreiras à entrada das empresas europeias no mercado chinês, obstáculos, que, segundo Bruxelas, fazem crescer o défice.

"É muito estranho que nós exportemos mais para a Suíça, que tem cerca de sete milhões de habitantes do que para a China [com 1,3 mil milhões de habitantes]. Não é natural", disse Barroso.

O presidente da comissão deixou também o aviso que a opinião pública europeia poderá vir a exigir medidas proteccionistas contra os produtos chineses, caso a China não tome medidas rápidas para reduzir o défice, que foi de 70 mil milhões de euros nos primeiros oito meses de 2007 e cresce a um ritmo de 23 por cento ao ano.

"O considerável e crescente aumento do défice faz aumenta a ansiedade dos cidadãos europeus quanto à globalização e há o risco que o crescimento económico da China seja visto como uma ameaça", sublinhou Barroso.

"Há que lidar com a questão de forma responsável para evitar pressões proteccionistas que podem ser muito difíceis de conter", acrescentou.

Durão Barroso destacou o papel da desvalorização do reminbi, a moeda chinesa, contra o euro - 12,5 por cento desde meados de 2005 - como outros dos factores que contribuem para o défice, ao tornar mais baratos os bens chineses nos mercados globais e mais caros os bens e serviços europeus.

"A questão da divisa deve ser considerada, porque cria problemas para as nossas exportações para a China", afirmou.

O governo chinês disse hoje "compreender os problemas europeus" mas reiterou que vai manter a política de valorização gradual do reminbi face às principais divisas mundiais.

"Compreendemos as preocupações da UE e estamos dispostos a intensificar o diálogo sobre o tema para se aprofundar o entendimento sobre a nossa política cambial", disse Qin Gang, porta-voz do ministério do Comércio chinês, em conferência de imprensa de rotina.

Qin afirmou que Pequim vai "manter sem vacilar" a reforma cambial do reminbi, mas concluiu que a "razoável estabilidade" da taxa de câmbio da moeda chinesa é do interesse da China e do resto do mundo.

A valorização do reminbi será um dos principais temas na cimeira UE-China, à qual o primeiro-ministro português José Sócrates vai presidir pelo lado europeu, enquanto presidente em exercício do conselho europeu.