Defensores de direitos humanos pedem pressão sobre a Índia
UE/Presidência
3 de mai. de 2021, 11:38
— Lusa/AO Online
Num documento divulgado, as organizações referem que a pandemia de Covid-19 que está a
afetar a Índia deve fazer com que a Europa acione mecanismos de ajuda
médica e envio de vacinas contra a doença, e crítica os abusos contra os
direitos humanos assim como a passividade da Europa."Concentrados
no fortalecimento das relações comerciais com a Índia, os países da
União Europeia têm sido relutantes a expressar publicamente as
preocupações sobre direitos humanos naquele país, excetuando algumas
posições ocasionais, sobre a pena de morte", refere o documento."Os
líderes europeus devem levantar a voz e fazer ouvir as preocupações
durante a cimeira", dizem os organismos de direitos humanos referindo-se
à cimeira que vai decorrer no Porto, de forma remota, no próximo
sábado."Em vez de referências vazias sobre
alegados 'valores acerca de direitos humanos e democracia', a adotar em
declarações conjuntas, os Estados membros da União Europeia devem
mostrar vontade em compromissos na defesa destes valores e
responsabilizar o governo indiano pelas violações contra os direitos
humanos", referem as organizações não-governamentais internacionais.Assim,
no documento pedem aos líderes europeus para pressionarem Nova Deli a
libertar os defensores dos direitos humanos detidos de forma arbitrária,
jornalistas, e exigem a mudança de leis repressivas que são "usadas
para silenciar" dissidentes e grupos minoritários e organizações
não-governamentais.O texto urge a União
Europeia a proteger as liberdades de expressão e reunião e pede que o
governo indiano seja responsabilizado pelas violações humanitárias,
incluindo nos Estados de Jammu e Caxemira.Os
subscritores do documento são a Amnistia Internacional, a Christian
Solidarity Worldwide (CSW), a Front Line Defenders (FLD), Human Rights
Watch, a Comissão Internacional de Juristas (ICJ, na sigla em inglês), a
International Dalit Solidarity Network (IDNS), a International
Federation for Human Rights (FIDH) e Organização Mundial Contra a
Tortura (OMCT).A Índia enfrenta neste
momento um grave aumento do número de mortes atribuídas a covid-19 e
infetados com o coronavirus responsável pela doença e, por isso, além
das questões sobre direitos, liberdades e garantias, os grupos de
direitos humanos pedem ajuda de emergência contra a pandemia, reforçando
que as críticas da população contra o governo estão a ser severamente
silenciadas."Face às críticas
generalizadas sobre as medidas contra a propagação do vírus, o governo
indiano está a censurar a liberdade de expressão, incluindo atos de
censura nas redes sociais e a criminalizar opiniões e alertas", afirmam
os oito grupos de defesa de direitos humanos."O
governo (de Nova Deli) ignora igualmente os apelos do Alto Comissário
das Nações Unidas para os Direitos Humanos que já pediu 'a libertação de
todas as pessoas detidas sem base legal, incluindo presos políticos e
todos aqueles que foram presos por criticarem ou mostrarem visões
dissidentes'", sublinham no documento hoje divulgado. O
texto refere também o receia do aumento de contágios nas prisões e
centros de detenção indianos conte de se encontram os dissidentes e
presos políticos. O governo indiano tem
levado a cabo várias emendas legislativas no sentido de dotar as forças
de segurança a atuar contra grupos da sociedade civil e restringir o
financiamento estrangeiro aos grupos de defesa dos direitos humanos
locais.Em setembro de 2020, a Amnistia
Internacional suspendeu as atividades no país, depois do governo indiano
ter congelado as contas bancárias da organização não-governamental.As
autoridades indianas adotaram igualmente leis contra minorias e
impuseram restrições consideradas discriminatórias contra a maioria
muçulmana em Jammu e Caxemira revogando o estatuto constitucional que
tinha sido adotado em agosto de 2019 e reforçando os poderes dos
governos federais junto dos dois territórios.As
autoridades fizeram rusgas sob legislação contra o terrorismo no
passado mês de outubro visando organizações não-governamentais em
Caxemira e Deli e um jornal em Srinagar foi mesmo "silenciado"."Apesar
do degradar da situação de direitos humanos no país, sob o controlo do
primeiro-ministro Narendra Modi, o governo indiano não tem considerado
as avaliações internacionais sobre a situação", refere o documento das
organizações não-governamentais.Os
signatários recordam que em janeiro de 2020, o Parlamento Europeu adiou
indefinidamente a adoção da resolução que condena as leis contra
cidadãos em vigor na Índia, além de outras leis que atentam contra os
direitos fundamentais no país.O texto da
resolução foi admitido mas nunca foi votado apesar da recomendação
adotada no mês passado, no quadro das relações União Europeia - Índia,
que demonstra preocupação sobre a violação de direitos humanos, urgindo
os líderes europeus a "usarem" a próxima cimeira como "plataforma" para
transmitir as mensagens, ao mais alto nível."O
longo silêncio da União Europeia nestes assuntos relacionados com
direitos humanos contrasta com as posições de alguns governos, incluindo
Executivos de países vizinhos da Índia, e é incompatível com as
recentes posições da União Europeia sobre ações contra abusos de
direitos humanos onde quer que ocorram", acusa o documento. A
União Europeia retomou recentemente o diálogo com a Índia em matéria de
direitos humanos, que se encontrava suspenso há sete anos.Os
grupos internacionais frisam que os "líderes europeus devem pressionar"
o governo indiano a mudar as "políticas abusivas e discriminatórias" e
pedir a libertação de defensores de direitos humanos e oposicionistas
que se encontram presos por delito de opinião ou por organização de
reuniões e manifestações pacíficas, na Índia.