Deco recebeu 150 queixas sobre cobranças de EPI e pede intervenção do Governo
11 de ago. de 2020, 13:07
— Lusa/AO Online
“O principal
motivo de reclamação está invariavelmente relacionado com a falta de
informação prévia. Os consumidores remarcam a sua consulta, o seu exame e
não são informados da cobrança deste valor”, disse hoje à agência Lusa a
coordenadora do Gabinete de Apoio ao Consumidor da Associação para a
Defesa do Consumidos (Deco), Ana Sofia Ferreira.As
reclamações surgiram em maio, quando terminou o “estado de emergência”,
e os portugueses começaram a dirigir-se aos hospitais privados para
retomar as consultas e terapêuticas e foram surpreendidos com o
pagamento dos equipamentos de proteção individual (EPI), como máscaras
ou luvas, utilizados pelos profissionais de saúde.
Esta cobrança “é muito variável nas unidades de saúde privadas”,
podendo ir “desde os cinco euros, até aos 25, 30 euros”, e também é
variável consoante for uma consulta, um exame ou um internamento.
Para Ana Sofia Ferreira, o número de reclamações recebidas “é
considerável”, mas assinalou que neste momento já há menos queixas e que
houve “uma melhoria” da informação nos sites de alguns grupos privados
de saúde e “uma maior transparência” dessa informação.
Mas nem sempre essa informação bate certo. Por vezes, o consumidor é
confrontado com outro valor já depois do ato médico prestado, o que “não
é admissível”. Há situações em que o valor do EPI “é igual ou superior
ao próprio ato”, advertiu, exemplificando que há subsistemas de saúde em
que o consumidor por uma consulta paga 3,99 euros e depois paga cinco,
oito, às vezes 15 euros pelo kit, consoante a unidade de saúde. A
Entidade Reguladora da Saúde (ERS) já afirmou que estas cobranças não
são ilegais, mas “foi muito clara no que diz respeito à questão da
importância da informação prévia”. “O
consumidor tem o direito de saber previamente e com a maior exatidão
possível tudo aquilo que lhe vai ser cobrado”, no que consiste o EPI, “a
razão da sua cobrança e quando é entregue ao profissional de saúde”,
defendeu. Inicialmente as queixas
estavam relacionadas com a cobrança feitas pelos principais grupos de
saúde privados, mas depois estenderam-se às clínicas dentárias quando
estas reabriram.Além da cobrança de EPI, a
Deco também teve queixas relacionadas com a cobrança de ‘kits’ de
desinfeção e ‘kits’ de material de proteção da cadeira e de utensílios”
nos dentistas.“Os consumidores muitas
vezes já estão a fazer tratamentos naquela clínica dentária", mas se não
efetuarem o pagamento dos 'kits' é lhes vedado o acesso à continuação
do tratamento, o que “são situações complicadas e que merecem ser
analisadas”.A Deco defendeu desde o início
que devia haver “uma atuação por parte do Governo, uma atuação do ponto
de vista legislativo, não só com limites às cobranças”, mas também com
“regras e critérios para a cobrança destes valores para não se
transformarem as taxas covid numa situação de total discricionariedade
na cobrança das mesmas”, defendeu. Ana
Sofia Ferreira alertou ainda para o risco de esta cobrança poder ser
estendida a outros locais, uma prática que deve ser verificada pelo
Governo. “A partir do momento em que
começamos a transpor estes custos extra relacionados com a covid-19 para
os consumidores podemos efetivamente chegar a uma altura em que
começamos a ter taxas em vários estabelecimentos e em várias realidades o
que é naturalmente preocupante”, sustentou.