Decisão do Tribunal da Relação sobre recurso e perícia médica a Salgado é revelada hoje
24 de mai. de 2023, 05:54
— Lusa/AO Online
Em causa está o
processo separado da Operação Marquês, no qual o antigo presidente do
Banco Espírito Santo (BES) foi condenado na primeira instância, em março
de 2022, a seis anos de prisão efetiva por três crimes de abuso de
confiança. Nessa decisão, o coletivo presidido pelo juiz Francisco
Henriques referiu a existência de Alzheimer, mas sem voltar a
mencioná-la na aplicação da pena.No
recurso interposto há cerca de um ano, os advogados do ex-banqueiro,
Francisco Proença de Carvalho e Adriano Squilacce, criticaram o tribunal
por aplicar “esta pena de prisão efetiva sem sequer ter ‘gasto’ ou
‘dedicado’ uma única palavra para apreciar a concreta relevância” da
patologia, tornando uma “questão absolutamente essencial numa ‘não
questão’”.Desde o julgamento que a defesa
de Ricardo Salgado tem reiterado em diferentes processos a necessidade
da perícia médica independente ao antigo banqueiro, tendo recentemente o
Tribunal Cível de Cascais autorizado o procedimento. Em
10 de maio, numa audiência realizada no TRL no âmbito deste processo
separado da Operação Marquês, o MP condescendeu que fosse feita de forma
independente uma perícia ao antigo presidente do BES no Instituto
Nacional de Medicina Legal. Fonte da
Relação de Lisboa adiantou à Lusa que o procurador-geral-adjunto Joaquim
Moreira da Silva concordou com o recurso do MP, que defende a ampliação
da pena do ex-banqueiro de seis para 10 anos de prisão, mas aceitou que
fosse efetuada uma perícia neurológica para se apurar “se Ricardo
Salgado está ou não em condições de perceber o que é uma pena de
prisão”, devido ao diagnóstico de Doença de Alzheimer que lhe foi feito.Outra
fonte ligada ao processo disse à Lusa que o MP “concordou que a pena
não podia ter sido aplicada sem fazer a perícia ao arguido”, face aos
relatórios médicos apresentados. Caso o TRL determine a realização da
perícia, segundo esta fonte, não restará alternativa senão anular a
decisão de primeira instância sobre esta matéria, uma vez que os
advogados do ex-banqueiro tinham pedido a nulidade da decisão por
omissão de pronúncia com base naquele diagnóstico.O
MP tinha pedido para o antigo líder do BES uma pena não inferior a 10
anos de prisão pelos três crimes de abuso de confiança, enquanto a
defesa tinha exigido a absolvição de Ricardo Salgado, realçando os 77
anos e o diagnóstico de Doença de Alzheimer.O
ex-banqueiro esteve acusado de 21 crimes no processo Operação Marquês,
mas, na decisão instrutória proferida em 09 de abril de 2021, o juiz Ivo
Rosa deixou cair quase toda a acusação que era imputada ao arguido.
Ricardo Salgado acabou pronunciado por apenas três crimes de abuso de
confiança, devido a transferências de mais de 10 milhões de euros, para
um julgamento em processo separado.