De
acordo com as estatísticas da Direção-Geral de Política de Justiça, os
crimes registados pelas polícias portuguesas aumentaram cerca de 8% no
ano passado em relação a 2022 e atingiram os valores mais elevados em 10
anos, totalizando 371.995 ocorrências.Em
declarações à agência Lusa, Hugo Costeira disse que é preciso que seja
feita uma comparação com a tipologia de crime e verificar em que zonas
do país há registo de um maior índice criminal, sublinhando que também
poderá ter havido um aumento do número de denúncias e não de crimes.“Do
ponto de vista estatístico, é realmente uma estatística preocupante”,
admitiu, sublinhando que é necessário que seja feita uma reflexão com
mais dados, que permitam que sejam tomadas outras considerações e
medidas.Na opinião de Hugo Costeira,
“poderá não haver um real aumento de criminalidade”, mas sim um aumento
do número de queixas às autoridades, com a consequente diminuição das
chamadas cifras negras.Cifras negras
representam as “pessoas que são vítimas de crimes e que não os reportam e
que realmente passam a reportá-los”, o que poderá ajudar a explicar um
possível aumento real.“Eu acho que nós
vamos ter de esperar pelo RASI e tentar perceber, aqui nas tipologias de
crimes, de que é que nós estamos exatamente a falar, quais são as zonas
onde isto está a acontecer, o que é que leva a que isto aconteça de
acordo com a geografia”, sublinhou.Deu
como exemplo o aumento do tráfico de estupefacientes, defendendo que
será preciso ver em que zonas do país isso aconteceu para poder ser
feita uma leitura mais abrangente e “perceber se há algum fator
acrescido que deva ser objeto de uma atenção específica das
autoridades”, nomeadamente ao nível de um policiamento de proximidade.Olhando
para o crime organizado, por exemplo no caso de furtos a residências,
apontou que já muito se ouviu falar do facto de estes crimes serem
levados a cabo por “grupos que podem nem ser nacionais”.“Vêm
a Portugal cometer este crime e desaparecem e, portanto, não são sequer
residentes. Portanto, não é uma questão sequer de imigração, é uma
questão de crime altamente organizado”, apontou.Defendeu,
mais uma vez, a necessidade de cruzar estes dados com os elementos que
venham a constar do RASI e que permitam “do ponto de vista técnico,
fazer algumas comparações e tirar algumas ilações”.Exemplificou
também com os registos de condução de veículo com taxa de álcool – “que
realmente é um grande crime” – para explicar que é preciso ser
analisado em que zonas isso mais acontece, se as pessoas identificadas
são mais jovens ou se os crimes acontecem junto a locais de diversão
noturna.“Portanto, há aqui diversas
métricas que têm de ser analisadas, até para que a resposta seja uma
resposta assertiva, porque nós temos de perceber porque é que há tantas
detenções com esta taxa de alcoolemia, por exemplo”, sustentou Hugo
Costeira.Sublinhou ainda que a
criminalidade deve ser olhada “de forma muito assertiva, quer pelo poder
político, quer pelos líderes das forças e serviços de segurança” para
que seja possível obter “conclusões válidas sobre o porquê de existirem
estes aumentos”.As estatísticas da
Direção-Geral de Política de Justiça mostram igualmente que desde 2013,
quando ocorreram 376.403, que não se registavam em Portugal tantos
crimes como em 2023. Os dados indicam
também que só em 2020, ano marcado por confinamentos devido à pandemia
de covid-19, é que a criminalidade ficou abaixo dos 300 mil crimes, com
298.787 ocorrências.