Custo de financiamento “proibitivo” no Brasil trava oportunidades geradas pela China
30 de mar. de 2023, 17:36
— Lusa/AO Online
“É frustrante gerar tantas
oportunidades aqui na China e os empresários brasileiros depois não
conseguirem arrecadar investimentos com os juros nesse patamar”, afirmou
Carlos Fávaro, durante um fórum empresarial realizado na capital
chinesa.O Banco Central do Brasil decidiu manter a taxa de juros base em 13,75% ao ano - o
patamar mais alto desde dezembro de 2016.O
governante brasileiro considerou aquele valor “proibitivo” e defendeu
que o país sul-americano tem a inflação e gastos públicos “sob
controlo”.Carlos Fávaro enalteceu ainda a
decisão das autoridades chinesas de levantar o embargo às importações de
carne bovina brasileira, que estavam suspensas desde fevereiro. O
embargo foi suspenso pela China após 29 dias de negociação.“Essa
rapidez, não comprometendo de forma alguma a qualidade e a segurança
necessária para a relação comercial, mostra a relação afetuosa e
profícua entre os dois países”, vincou. “A última vez que aconteceu um
caso semelhante, foram precisos mais de 100 dias para o embargo ser
levantado”, disse o ministro.O ministro
também comemorou a habilitação de quatro novas plantas frigoríficas
brasileiras para exportar para a China, o que não ocorria desde 2019,
além da retomada de duas plantas frigoríficas que estavam suspensas. “Temos
hoje mais de 50 plantas frigoríficas cadastradas para serem avaliadas
pelo governo chinês. As oportunidades estão postas na mesa e tenho a
certeza de que teremos mais produtos comercializados com a China”. Ele afirmou que houve avanços na negociação de outros produtos como algodão, milho, uva fresca, noz, sorgo e gergelim.Luiz
Inácio Lula da Silva tinha previsto realizar esta semana uma visita à
China, que foi entretanto adiada, após o Presidente do Brasil ter
contraído uma pneumonia.Uma comitiva com
centenas de empresários, além de governadores, senadores, deputados e
ministros, encontra-se, no entanto, em Pequim, prosseguindo com a agenda
original, que terminou com a realização do fórum empresarial, hoje, num
hotel da capital chinesa.Durante o fórum
foram anunciados vários acordos entre empresas dos dois países nas áreas
energias renováveis, agricultura ou comercialização de créditos de
biodiversidade.A nível financeiro, foi
anunciada a adesão do banco sino-brasileiro BOCOM BBM ao CIPS (China
Interbank Payment System), a alternativa chinesa ao Swift, o sistema
internacional de pagamentos, visando incrementar o câmbio directo entre
as moedas nacionais do Brasil e da China.Também
a sucursal brasileira do banco estatal chinês Industrial and Commercial
Bank of China passou a atuar como banco de compensação da moeda
chinesa, o yuan, no Brasil, visando “reduzir as restrições” ao uso do
yuan e “promover ainda mais o comércio bilateral e facilitar
investimentos” com a moeda chinesa.Em
fevereiro, os bancos centrais do Brasil e da China assinaram um
memorando de entendimento para o estabelecimento de acordos de
compensação do yuan, como parte dos esforços de Pequim para
internacionalizar a moeda chinesa.O
estabelecimento desses arranjos “vai beneficiar as transações
transfronteiriças e promover ainda mais o comércio bilateral e a
facilitação de investimentos”, disse então, em comunicado, o Banco
Popular da China (banco central).A China
tem tentado internacionalizar o yuan desde 2009, visando reduzir a
dependência do dólar em acordos comerciais e de investimento e desafiar o
papel da moeda norte-americana como a principal moeda de reserva do
mundo.Esta questão tornou-se mais urgente à
medida que fricções políticas e a prolongada guerra comercial e
tecnológica entre Pequim e Washington resultaram na imposição de sanções
contra várias entidades chinesas.