Cultura, património e limpeza urbana são destinos da receita da taxa turística
27 de ago. de 2024, 10:12
— Lusa
Segundo uma
contagem realizada pela agência Lusa (considerando as cobranças em vigor
até este mês), dos 278 municípios existentes no continente, 24 aplicam
já a taxa turística, alguns vão começar a aplicar ainda este ano – como
Loulé (novembro), Setúbal e Caminha (setembro) - e outros perspetivam
começar no próximo ano.Na Madeira, duas
autarquias aplicam a medida atualmente (Santa Cruz e Santana) e outras
preveem começar a fazê-lo ainda este ano ou em 2025. No próximo ano
avança também a cobrança nos seis concelhos da ilha açoriana de São
Miguel. No caso da cidade de Lisboa, a
verba arrecadada é dedicada, em primeiro lugar, à limpeza da cidade, com
“cerca de oito milhões de euros anuais para o financiamento parcial do
reforço da higiene e limpeza urbana”, de acordo com a autarquia.A
capital, que em setembro vai começar a cobrar quatro euros por noite,
duplicando o valor pago desde janeiro de 2019, já embolsou um total de
203,2 milhões de euros entre janeiro de 2016 e julho deste ano, com o
recorde registado em 2023, ano em que contabilizou uma receita de 40,2
milhões de euros.Uma parte da verba
arrecadada é, segundo a autarquia, para continuar com o crescimento em
termos de centralidades turísticas, como aconteceu com Museu do Tesouro
Real e o Centro Interpretativo da Ponte 25 de Abril, pagos com receitas
neste âmbito, assim como a Doca da Marinha e a Estação Sul-Sueste.De
acordo com a Câmara de Lisboa, “os efeitos positivos do turismo
implicam, consequentemente, o reforço das infraestruturas urbanas e de
funcionamento da cidade, nomeadamente o alargamento de intervenções
públicas ao nível das infraestruturas, da mobilidade, da limpeza urbana,
do espaço público, da segurança e da oferta turística, cultural e de
lazer”.A capital começou também este ano a
ter taxa turística de chegada por via marítima, com o valor unitário
fixo de dois euros por passageiro (com idade superior a 13 anos) que
desembarque de navios de cruzeiro em trânsito.Já
em Sintra, moradores e comerciantes estão descontentes com o que
denominam de "turismo descontrolado" e exigem medidas contra o excesso
de visitantes, que acusam de causar o caos no trânsito, prejudicando a
mobilidade e a segurança dos residentes na vila. No entanto, a taxa
turística já valeu este ano aos cofres do município 550.461 euros até 30
de junho (55% nos alojamentos locais e 45% em empreendimentos
turísticos).O município arrecadou 484.286
euros em 2019, 315.693 euros em 2020, 56.242 euros em 2021, 258.357 em
2022 e 1,156 milhões em 2023 (ano em que a cobrança aumentou de um para
dois euros a partir de março).A autarquia
estimou, no Orçamento Municipal para 2024, uma receita de um milhão de
euros e as receitas da taxa turística são, genericamente, “aplicadas em
projetos, estudos, equipamentos ou infraestruturas que promovam o
crescimento sustentável do turismo, a qualidade ambiental da região e a
manutenção do património cultural do município”.Cascais,
que aplica a taxa desde 2017, já embolsou “cerca de 14 milhões de
euros, que foram aplicados em investimento, essencialmente na área da
cultura”, indica o município.Em Braga, a
câmara refere que a verba arrecadada com a taxa, não sendo consignada a
nenhum fim particular, serve para mitigar o “avultado” esforço
financeiro suportado com a promoção e animação turística e a conservação
de infraestruturas.“Para estimular a
atividade turística, é necessário um forte investimento em promoção,
conferindo visibilidade ao destino, e em animação, garantindo ainda
melhores experiências a quem nos visita”, refere o presidente, Ricardo
Rio, sublinhando que o aumento do turismo acarreta uma degradação mais
acelerada das infraestruturas e uma necessidade de reforço dos serviços
de limpeza e conservação.Em 2023, a Câmara de Braga obteve cerca de meio milhão de euros com a taxa.Na
Póvoa de Varzim, uma das zonas balneares mais procuradas na região
Norte, a medida foi implementada em janeiro de 2023, sendo expectativa
da câmara que represente uma receita de 500 mil euros anuais, a investir
numa “melhoria de equipamentos ligados ao turismo que possa gerar mais
visitas ao concelho”.No Centro, em
Coimbra, o pagamento foi definido para “criar condições para melhor
receber turistas e para promover eventos na Baixa da cidade dos
estudantes, de forma a dar-lhe vida”, indica o município. De janeiro a
junho deste ano, as receitas ultrapassaram os 188 mil euros, enquanto no
período homólogo de 2023 (a taxa entrou em vigor em abril desse ano)
foi de mais de 109 mil euros.Em Setúbal,
onde os hóspedes começarão a pagar em setembro, prevê-se que a medida vá
render “cerca de 400 mil euros por ano ao município”. A autarquia
justifica a criação com o aumento considerável da atividade turística e
com a necessidade de assegurar novas fontes de financiamento, de acordo
com o “princípio da justa repartição dos encargos públicos”. Em 2022, o
território registou um total de 372.482 dormidas.Setúbal
depara-se com “a necessidade de reforçar substancialmente, com caráter
estrutural, o investimento e a despesa pública na prestação de serviços e
utilidades inerentes à atividade turística, em diversos domínios das
respetivas atribuições, de modo a garantir as necessárias condições de
sustentabilidade e atratividade”, sem pôr em causa o equilíbrio e
qualidade de vida urbana dos residentes.Mais
a sul, no Algarve, as estimativas apontam para valores como 300 mil
euros anuais em Olhão ou 4,6 milhões em Loulé, mas Faro, por exemplo
arrecadou de março a outubro de 2022 perto de um milhão de euros com a
taxa turística, o dobro do que se previa inicialmente.A
primeira experiência com a aplicação de uma taxa deste género em
Portugal foi feita em Aveiro, em 2013, com o pagamento de um euro por
dormida, mas a medida não obteve o sucesso desejado e foi abolida pela
autarquia em abril de 2014.O atual
presidente da câmara, Ribau Esteves, revogou o regulamento que a
aplicava, considerando que prejudicava o turismo e tinha expressão
significativa para as receitas municipais.