Em
declarações à agência Lusa a propósito do Dia Mundial dos Cuidados
Paliativos, que se assinala na segunda-feira, a presidente da APCP,
Catarina Pazes, reconheceu que esta área continua a ser considerada como
um luxo, pois a dificuldade de acesso é grande e há muita assimetria na
oferta.“Continua a ser, para uns, uma
coisa desconhecida (…). Para outros, quem já conhece, é uma exigência
natural, mas, infelizmente, (…) havendo uma assimetria ainda tão vincada
no acesso, acaba por ser visto como um privilégio ou um luxo”, afirmou.Pede
mais investimento nesta área para que se criem condições “para as
equipas que existem se desenvolverem e para que tenham as condições de
que precisam para trabalhar com qualidade”.“Apelo
a quem governa e a quem está a apresentar o Orçamento do Estado, para
colocar uma verba adequada para que se defina os cuidados paliativos
como uma prioridade. São uma urgência, uma emergência para o Serviço
Nacional de Saúde, mas precisam de investimento”, afirmou. Defendeu
que os cuidados paliativos devem ser vistos como qualquer outra
especialidade da área da saúde, “com o mesmo nível de dignidade e
respeito”.A responsável lamentou a grande
assimetria de respostas no país, mas disse que há “bons exemplos” que
ajudam a explicar a importância dos cuidados paliativos, uma área em que
reconheceu haver pouca exigência da sociedade civil.No
âmbito do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, a APCP vai promover uma
campanha para sensibilizar a população para a importância deste nível de
cuidados.Catarina Pazes alertou ainda
para a “normalização do sofrimento”, sublinhando: “Nos hospitais, nos
lares idosos, há uma certa normalização do sofrimento. Pensa-se que se a
pessoa está naquela situação, é normal”. “Não,
não é normal as pessoas passarem por tudo isto sem um suporte adequado e
o facto de não terem esse suporte adequado faz com que tenham de
recorrer muito mais vezes ao hospital, ao serviço de urgência”,
acrescentou.Estas situações “desgastam a pessoa doente e a família” e “provocam insegurança e angústia”, observou.“Quando
chegamos à fase mais final da vida, naturalmente, não havendo todo este
suporte ao longo do percurso, a única saída é procurar um internamento
num sítio onde a pessoa possa ficar, o que muitas vezes não aparece no
momento em que é preciso ou, quando aparece, é muito longe [da família] e
as pessoas acabam por não aceitar”, explicou.Estima-se
que, em Portugal, mais de 100 mil pessoas, entre crianças, jovens,
adultos e idosos, precisam de cuidados paliativos, mas cerca de 70% não
têm acesso.Esta área foi alvo de um
relatório recente da Entidade Reguladora da Saúde, que analisou o acesso
e concluiu que, no ano passado, quase metade dos utentes referenciados
para unidades de cuidados paliativos contratualizadas com o setor
privado ou social morreram à espera de vaga.A
Organização Mundial de Saúde (OMS) projeta que, até 2060, o número de
pessoas que precisarão de Cuidados Paliativos poderá duplicar.