Críticos pedem mudança de “linha política” do BE e não excluem convenção extraordinária

6 de fev. de 2022, 11:50 — Lusa /AO Online

Em declarações à Lusa após a reunião da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda (BE), Bruno Candeias, membro da Mesa Nacional eleito pela moção E, afirmou que o partido continua a “evitar um balanço sério em relação àquilo que é o resultado das eleições e em relação à linha política” da direção, que acusou de “excessiva proximidade ao PS”.O dirigente bloquista relembrou que os resultados obtidos no passado domingo foram “a pior derrota dos últimos 20 anos do Bloco de Esquerda”, em que, além da perda de mandatos, o seu partido também não conseguiu alcançar nenhum dos três objetivos que tinha identificado: manter-se como terceira força política a nível nacional, impedir uma maioria absoluta do PS e fazer um novo acordo com os socialistas.Candeias defendeu que, depois do chumbo dos Orçamentos do Estado para 2021 e para 2022, o Bloco deveria ter feito uma campanha com uma afirmação do seu programa enquanto “força autónoma à esquerda e uma alternativa verdadeira à esquerda”, e não uma “campanha monocórdica” a mostrar disponibilidade para um acordo pós-eleitoral com o PS.“Isto é uma contradição porque, se votamos contra o Orçamento do Estado, damos um primeiro passo que é um passo necessário para alterar o rumo, a linha política, e depois vamos para as eleições a dizer ‘bom, o que nós precisamos é de fazer um acordo com o PS’. Ora isto é uma contradição que o eleitorado não compreende”, indicou.Considerando que essa análise não foi feita na reunião de hoje, Candeias reiterou que é “necessário mudar de rumo, é necessário mudar de linha política”, sob pena de manter “contradições” que considerou não favorecerem o Bloco de Esquerda.De acordo com os críticos, “as próximas semanas vão ser de debate interno, vão-se realizar vários plenários distritais, as bases vão-se pronunciar”, sendo que, após essa auscultação, será feita uma reflexão onde não devem ser excluídos “todos os instrumentos que forem necessários utilizar, nomeadamente uma Convenção extraordinária” para reforçar a democracia interna do partido.“Na esquerda, e no Bloco de Esquerda, nunca foi, não é e nunca será a nossa tradição pedir cabeças perante aquilo que são resultados eleitorais. O que nós exigimos é que, de facto, se alterem as políticas, a linha política que nos tem conduzido a estes maus resultados”, disse.Abordando a reunião da Mesa Nacional de hoje, e designadamente a organização de uma Conferência Nacional, Bruno Candeias afirmou que absteve-se dessa decisão, porque a conferência em questão veio substituir uma nova reunião da Mesa Nacional que estava planeada para março e que iria culminar com o processo dos plenários distritais.“O que nós dizemos é que deveríamos ter mantido essa Mesa Nacional para, aí sim, refletirmos sobre o balanço que foi feito pelas bases do partido, que era nesse espaço e nesse momento que deveriam ser decididos os novos passos a dar que poderiam passar por vários instrumentos estatutários de reforço da democracia interna do partido”, referiu.A coordenadora bloquista, Catarina Martins, reconheceu hoje que o BE “não foi capaz de comunicar as razões profundas do chumbo do Orçamento do Estado (OE)”, assumindo a “derrota pesada” nas legislativas de domingo.A Mesa Nacional do Bloco de Esquerda reuniu-se hoje para analisar os resultados eleitorais das legislativas de domingo, tendo no final deste encontro Catarina Martins afirmado aos jornalistas que o partido que lidera “teve uma derrota eleitoral pesada” e que o órgão máximo bloquista entre convenções esteve “a analisar as causas desse caminho” e o que deve fazer agora.“O Bloco de Esquerda reconhece que não foi capaz de comunicar as razões profundas do chumbo do Orçamento do Estado”, assumiu.A estratégia do BE nas legislativas de “estender a mão ao PS para fazer acordos” em vez de se apresentar como alternativa foi criticada, em declarações à Lusa, pelo histórico da UDP Mário Tomé, que pediu um “balanço sério” sobre esta pesada derrota.Na mesma linha, os antigos deputados bloquistas Pedro Soares e Carlos Matias assinalaram que o seu partido teve uma “derrota eleitoral muito vincada” nas legislativas de domingo, que atribuem à aproximação ao PS nos últimos anos e não à bipolarização que tem sido apontada pela direção do BE.