“A crise da covid-19 salientou o
papel crucial dos jornalistas, que têm estado na linha da frente, pondo
por vezes a sua saúde em risco e trabalhando em condições muito
difíceis, mas a crise também revelou […] uma descida nas receitas e isto
não só é um problema económico, como também um problema democrático”,
declarou a vice-presidente da Comissão Europeia com a pasta dos Valores e
Transparência, Vera Jourova, falando com alguns meios de comunicação
social europeus, incluindo a agência Lusa.Em
reação ao estudo Media Pluralism Monitor hoje divulgado - que indica
que os media na Europa enfrentam múltiplas ameaças, como o aumento do
assédio a jornalistas, nomeadamente por políticos, a crescente incerteza
económica e a esfera dos 'online' a falharem o reforço do pluralismo -,
Vera Jourova notou que tais dificuldades foram “amplificadas com a
crise” gerada pela pandemia, embora existissem antes.Por
isso, a responsável salientou a necessidade de “salvaguardar condições
básicas de trabalho para os jornalistas”, bem como “a sua proteção e os
seus direitos”, numa altura em que “os media estão a perder dinheiro,
mas também pessoas”.Aludindo aos recentes
casos de assassinato de jornalistas, nomeadamente da maltesa Daphne
Caruana Galizia, em 2017, Vera Jourova alertou que “existem muitos,
muitos jornalistas sob ameaça”, sendo que “as mulheres são a mais
atingidas”.“Isso reflete-se, desde logo,
em violência ‘online’ […], com ataques a jornalistas e propagação de
discursos de ódio, infelizmente pelas mãos de políticos, e isto é
inaceitável”, acrescentou.E vincou: “A pressão económica não pode tornar-se em pressão política”.Dois
países europeus com processos abertos por alegada violação do Estado de
direito, a Hungria e a Polónia, são também dos piores classificados no
estudo Media Pluralism Monitor, com Vera Jourova a “manifestar profunda
preocupação” com os ataques à imprensa nestes Estados-membros.“Estamos a seguir de forma muito próxima o que acontece nestes Estados-membros com maiores riscos”, assegurou.Na
Hungria, por exemplo, empresários ligados ao primeiro-ministro, Viktor
Orbán, adquiriram vários meios de comunicação, criando grandes
aglomerados de media pró Governo.Um dos
últimos títulos independentes do país, o Index, está agora na ‘mira’ do
executivo de Orbán, o que já levou ao afastamento do diretor da
publicação ‘online’, situação que Vera Jourova disse estar a acompanhar.Frisando
que, para a Comissão Europeia, “o apoio aos media é uma prioridade”, a
vice-presidente do executivo comunitário destacou também que, no Quadro
Financeiro Plurianual 2021-2017, estão “previstos 601 milhões de euros
para apoiar projetos relacionados com o pluralismo dos media”.Ainda
assim, para Vera Jourova, “cabe, em primeiro lugar, aos
Estados-membros” assegurar a liberdade de imprensa nos seus países,
embora admita que “os apoios estatais colocam pressão sobre a linha
editorial”.Presente neste encontro digital
com jornalistas europeus, o comissário europeu do Mercado Interno,
Thierry Breton, defendeu que “as entidades regulatórias [de cada país]
devem desempenhar um papel cada vez mais importante” para evitar abusos
contra jornalistas.Thierry Breton reconheceu, também, o “grande risco que o setor enfrenta, especialmente os jornais e os media locais”.O
Instituto Universitário Europeu divulgou hoje o seu novo relatório, que
foi atualizado para a Era Digital com a inclusão de vários indicadores e
variáveis relacionadas com a transformação digital da comunicação
social.“O estudo confirma a tendência
observada no setor dos media nos últimos anos: os jornalistas são cada
vez mais vítimas de assédio, a sustentabilidade da indústria de notícias
está em risco por toda a Europa, enquanto o papel de guardião
['gatekeeping'] das plataformas digitais está em ascensão”, lê-se no
comunicado sobre o estudo.Segundo o relatório, “nenhum dos países analisados está livre dos riscos para o pluralismo dos media”.Portugal
é um dos países visados no documento, embora seja classificado como de
“baixo risco” em muitos dos indicadores avaliados.