Crise provocada pela pandemia atirou 400 mil pessoas para a pobreza
22 de jun. de 2021, 09:35
— Lusa/AO Online
“Em comparação
com o cenário sem crise, 400 mil novos indivíduos caíram abaixo do
limiar de pobreza, definido como 60% do rendimento mediano equivalente,
aumentando a taxa de risco de pobreza em 25% como consequência da
pandemia de covid-19”, concluiu o estudo do Observatório Social da
Fundação “la Caixa”, da autoria do Center of Economics for Prosperity
(PROSPER) da Universidade Católica de Lisboa.Segundo
o documento que a Lusa teve acesso, que considera que as medidas do
Governo minimizaram em parte o aumento da pobreza e da desigualdade, a
pandemia resultou numa “perda substancial de rendimentos para a
população portuguesa”, com o rendimento mediano anual a cair de 10.100
euros no cenário sem crise para 9.100 euros no cenário com crise.Além
disso, a crise provocada pela covid-19 “teve efeitos assimétricos”, uma
vez que as classes baixa e média-baixa, a região do Algarve e as
pessoas com escolaridade até ao nono ano “foram os grupos mais afetados
por esta crise, com perdas claramente acima da média nacional”, refere o
estudo.De
acordo com o estudo, a maior parte das pessoas mais afetadas pela crise
já se situava na metade inferior da distribuição de rendimento no
cenário sem crise, o que fez com que aumentasse a desigualdade.“Os
resultados mostram que a pandemia levou a um impressionante aumento de
25% da pobreza ao longo de um ano, quando comparados os cenários com e
sem crise, pondo em risco os progressos feitos nos últimos vinte anos e
invertendo a tendência de redução continuada da pobreza iniciada em
2015, quando a taxa de pobreza era de 19%”, refere o documento.O
estudo, da autoria de Joana Silva, Anna Bernard, Francisco Espiga e
Madalena Gaspar, salienta ainda que as políticas de proteção aplicadas
pelo Governo em 2020 atenuaram o aumento da pobreza e da desigualdade em
Portugal.“Sem
a sua implementação, o confinamento inicial de oito semanas teria
produzido aproximadamente o mesmo impacto sobre a pobreza e a
desigualdade que aquele calculado para um ano inteiro”, adianta o
documento do PROSPER, ao avançar que o regime de lay-off simplificado,
destinado a trabalhadores por conta de outrem, e os apoios
extraordinários para trabalhadores por conta própria “foram eficazes
para atenuar o impacto da crise”.“A
pandemia, ainda em curso, e a crise económica resultante, trazem
consigo desafios orçamentais substanciais, uma vez que esforços
governamentais de grande magnitude podem ser difíceis de sustentar por
um período prolongado”, alerta o PROSPER, para quem é “evidente que, sem
uma forte recuperação, uma redução das políticas de proteção pode
causar um impacto negativo substancial na pobreza e na desigualdade”.O
Observatório Social da Fundação la Caixa” é um novo projeto que está a
ser desenvolvido em Portugal com o objetivo de fazer diagnósticos sobre a
realidade social nas áreas social, da educação e da cultura.