Crise militar e política pode demorar dois ou três anos
Ucrânia
2 de mai. de 2022, 18:02
— Lusa/AO Online
Numa
intervenção num encontro com legisladores norte-americanos em Lisboa,
promovido pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD),
Cravinho defendeu que a resposta que tem sido dada à crise provocada
pela guerra na Ucrânia tornou clara a necessidade de a União Europeia
(UE) e os Estados Unidos da América (EUA) trabalharem em conjunto.“Há
um sentido crescente de que estamos a falar de algo que vai estar
connosco durante algum tempo, durante alguns anos, dois, três anos,
provavelmente, à medida que o lado militar se vai desgastando e que a
reconfiguração política leva o seu tempo a tornar-se aparente”, disse o
chefe da diplomacia portuguesa.João Gomes
Cravinho disse também que as sanções ocidentais contra a Rússia terão
“efeitos graves nos bolsos do russo médio dentro de alguns meses”,
porque as medidas para as atenuar dotadas pelas autoridades de Moscovo
só têm efeito a curto prazo.“O problema que a Rússia enfrenta é que as sanções não vão ser levantadas”, afirmou o chefe da diplomacia portuguesa.Numa
reação à invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro, a UE, os EUA e outros
países, como o Japão, têm decretado sucessivos pacotes de sanções contra
a Rússia, além de fornecerem armamento às forças de Kiev.O
encontro de dois dias promovido pela FLAD reúne 19 membros do Congresso
norte-americano e de senados estaduais com ascendência portuguesa, que
vão ouvir uma intervenção do Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa.Na sua
comunicação no encontro da FLAD, João Gomes Cravinho salientou que a
relação transatlântica é baseada em valores partilhados há mais de sete
décadas, como a democracia, a liberdade, o multilateralismo, o Estado de
direito e os direitos humanos.Admitiu
que, por vezes, há algumas divergências entre os dois lados do
Atlântico, mas considerou que são “relativamente menores em comparação
com os interesses partilhados” e que a relação deve ser encarada no
longo prazo.“A colaboração transatlântica
tem de ser central em questões como a transição digital, energia verde
sustentável, em toda a gama de desenvolvimentos sociais e económicos
sustentáveis”, defendeu.Cravinho
considerou que o Ocidente surpreendeu a Rússia ao reagir de forma
coerente e consistente, e que uma das consequências da crise foi o
fortalecimento da cooperação entre a UE e a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (NATO).O conflito iniciado
há 68 dias, segundo o ministro, fez também com que as questões da
defesa e segurança se tornassem prioritárias pela primeira vez na Europa
desde o fim da Guerra Fria, em 1991.Recordando
aos legisladores norte-americanos que foi ministro da Defesa no
executivo anterior, Cravinho disse que a arquitetura da segurança
europeia passa por uma parceria forte entre a UE e a NATO.
Referiu que Portugal é a favor do desenvolvimento de uma identidade de
defesa europeia, mas que isso não é incompatível com a relação com a
NATO.Nesse sentido, ironizou que o líder
da Rússia, Vladimir Putin, “tem sido extremamente bem-sucedido em
produzir o resultado oposto de tudo o que pretendia”.“Um
dos aspetos é precisamente este entendimento claro entre todos os
europeus de que a NATO, e a relação com os EUA, é fundamental para os
nossos interesses de segurança mais básicos”, disse.A
energia é outro setor em que João Gomes Cravinho disse ver um efeito
contrário aos interesses russos, dado que a guerra na Ucrânia expôs a
excessiva dependência da UE em relação à Rússia.Cravinho
salientou que Portugal não está dependente do gás e petróleo russos e
iniciou a transição energética há mais de uma década, o que permitiu que
cerca de metade das necessidades do país sejam asseguradas pelas
energias renováveis.Nas alternativas aos
fornecimentos russos, defendeu que Portugal pode ter um “papel
significativo” com o porto de Sines, porque os EUA são o maior
fornecedor de gás natural liquefeito da UE.Cravinho
disse ainda aos legisladores luso-americanos, maioritariamente com
raízes nos Açores, que o arquipélago voltou a ganhar relevância
geopolítica. “Devido a estas novas ameaças
russas, estamos a descobrir que o Atlântico está a tornar-se cada vez
mais politicamente relevante”, disse.Nos
desafios futuros, considerou que a “ascensão da China é um enorme
desafio para todos” e defendeu a importância do combate às alterações
climáticas e à preservação dos oceanos, lembrando a conferência da ONU
que Portugal vai acolher no final de junho.