Crianças hiperativas e com défice de atenção têm mais agressividade impulsiva
7 de jun. de 2024, 17:05
— Lusa/AO Online
Em declarações à agência Lusa, e
salvaguardando a diferença entre agressividade por impulso e
agressividade planeada, a investigadora Joana Ferreira Gomes alertou
para necessidade de compreender melhor a PHDA, uma perturbação que é
ainda muito estigmatizante.“Não sabemos o
que provoca. Existem suspeitas e pode haver um componente genético (…).
Também se acredita que há fatores ambientais associados como a exposição
a mais poluição. Não é uma alteração que possamos evitar. É algo que
nasce com a criança, se desenvolve nos primeiros anos de vida e é
diagnosticado na primeira infância”, disse a professora da FMUP.A
PHDA é uma condição que tem por base alterações neurobiológicas, que se
manifestam numa grande dificuldade em inibir e ajustar o comportamento
em função da situação, e com impacto marcado no funcionamento familiar,
escolar e social.“As pessoas só veem os
comportamentos mais disruptivos e associam-nos a falta de educação e
algo que é da vontade da criança (…). Muitos pais reportam incompreensão
de quem até lhes é próximo. Dizem-lhes ‘ele comporta-se assim porque
não o educas’ ou ‘se fosse comigo dava-lhe dois açoites’. Daí que seja
muito importante entender melhor esta perturbação. Todas as pessoas
[educadores, familiares, etc.] que estão à volta da criança têm um
papel”, sublinhou.No estudo – que está
integrado num projeto de investigação chamado M2Child – foram analisadas
72 crianças entre os 6 e os 10 anos, residentes em Portugal, sendo que
38 tinham Hiperatividade e Défice de Atenção e 34 tinham um
desenvolvimento típico. As crianças foram
recrutadas através do ‘site’ criado para o projeto, por divulgação nas
redes sociais e por indicação de pediatras do neurodesenvolvimento.Além
de Joana Ferreira Gomes, o trabalho publicado no Frontiers in
Psychiatry teve como autores Sofia Marques (Universidade Lusíada/CIPD),
Teresa Correia de Sá (FMUP/i3S), Benedita Sampaio Maia (i3S) e Micaela
Guardiano (ULS São João).De acordo com o
resumo enviado à Lusa, além da agressividade impulsiva, foi registado
que crianças com PHDA apresentam também mais sintomas depressivos, mais
flutuações de humor e dificuldades em controlar e regular as suas
emoções. À Lusa, Joana Ferreira Gomes
descreveu que a agressividade impulsiva e a falta de controlo inibitório
(dificuldade em evitar distrações e impulsos) relacionam-se, nestas
crianças, com desregulação emocional, sintomas depressivos e “emoções
negativas”, como “frustração, sentimento de culpa, medo e remorso”.“Estávamos
a contar que as crianças com PHDA tivessem mais agressividade por
impulso, mas também têm mais sintomas de ansiedade e depressão e isso
entristeceu-nos”, sintetizou a investigadora.O
grupo de investigadores – que inclui psicólogos, nutricionistas,
neurocientistas, pediatras do neurodesenvolvimento, microbiólogos, entre
outros profissionais – aconselha “abordagens à medida de cada criança” e
a promoção da regulação das emoções para diminuir os comportamentos
agressivos. Joana Ferreira Gomes adiantou
que o projeto global poderá vir a integrar adolescentes e adultos, de
forma a estudar esta perturbação na trajetória de vida.“Pensa-se
que estas patologias de neurodesenvolvimento têm tendência a aumentar,
não só porque se está mais atento ao diagnóstico, mas porque
efetivamente há estímulos novos, modos de vida diferentes e fatores
ambientais”, concluiu.