Crianças até 16 anos com sintomas de hepatite aguda devem ser vistas com urgência no hospital
7 de jun. de 2022, 12:31
— Lusa/AO Online
De
acordo com a orientação hoje divulgada pela Direção-Geral da Saúde
(DGS) sobre os casos suspeitos de hepatite aguda de etiologia
desconhecida em idade pediátrica, as manifestações inespecíficas como a
dor abdominal, náuseas e vómitos, diarreia, com mais de uma semana de
evolução e prostração importante podem coexistir com sintomas
respiratórios e febre.Já em contexto de
cuidados hospitalares, perante uma criança com as manifestações clínicas
acima descritas e que levantem suspeita de hepatite, deve ser iniciada a
investigação laboratorial com, entre outras análises, hemograma
completo, estudo da coagulação (INR), na área da bioquímica devem ser
analisados indicadores como a glicemia, ureia, creatinina, ionograma,
bilirrubina total e direta, assim como deve ser feita hemocultura, se
apresentar febre.Uma vez que a informação
resultante da investigação em curso nos países que reportaram casos
ainda é limitada, tendo os adenovírus entéricos sido indicados como
possível agente envolvido, a DGS recomenda, na comunidade, o reforço de
medidas de proteção como a higiene das mãos (supervisão em crianças mais
pequenas) e a etiqueta respiratória, arejamento e/ou ventilação dos
espaços interiores, limpeza e/ou desinfeção frequente de superfícies na
presença de casos de gastroenterite aguda ou de infeção respiratória.Nas
unidades de saúde, são recomendadas medidas de precaução de contacto
para casos suspeitos ou prováveis em caso de sintomatologia
respiratória, “dando cumprimento às regras estabelecidas para controlo
de infeção pelo Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de
Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA)”, acrescenta a DGS.Para
promover a identificação de casos suspeitos e garantir a sua
investigação, a DGS definiu como casos prováveis os que se refiram a
crianças com 16 aos ou menos de idade com sintomas suscetíveis de serem
hepatite aguda e não se confirme como hepatite A e E e com valores de
aminotransferases séricas superiores a 500 UI/L (aspartato
aminotransferase (AST) ou alanina aminotransferase (ALT)), desde 1 de
outubro de 2021.Será ainda identificado
como casos prováveis os que tiverem ligação epidemiológica a pessoa de
qualquer idade com hepatite aguda (não hepatite A-E) que seja contacto
próximo de um caso considerado provável, desde 1 de outubro de 2021.Na
impossibilidade do laboratório hospitalar da instituição onde a criança
está a receber cuidados de saúde realizar algumas destas análises, as
amostras deverão ser enviadas ao Instituto Nacional de Saúde Doutor
Ricardo Jorge (INSA), acompanhadas da respetiva requisição e termo de
responsabilidade, indica a DGS.Na presença
de um caso provável, “os profissionais de saúde do sistema de saúde
devem reportar o caso às Autoridades de Saúde territorialmente
competentes”, através do SINAVEmed (Sistema Nacional de Vigilância
Epidemiológica), selecionando a doença “Hepatite de etiologia
desconhecida em idade pediátrica”, insiste a DGS.Após
a notificação, caberá à autoridade de saúde territorialmente competente
a realização do inquérito epidemiológico, refere a orientação,
acrescentando que os casos prováveis ou com ligação epidemiológica serão
reportados pela DGS ao Centro Europeu de Prevenção e Controlo das
Doenças (ECDC) e à Organização Mundial da Saúde (OMS), “contribuindo
para a investigação internacional em curso”.A
DGS diz ainda que os profissionais de saúde “devem informar os pais
sobre a raridade desta condição”, esclarecendo sobre a necessidade de a
investigar, sobre as manifestações clínicas que deverão levar à procura
de cuidados de saúde, bem como onde se devem dirigir.A
31 de maio de 2022, o ECDC e a OMS Europa publicaram um boletim
epidemiológico referindo 305 casos de hepatite aguda de etiologia
desconhecida em crianças com 16 anos ou menos anos em 17 países da
região europeia da OMS, sendo que em Portugal estavam contabilizados 15.Segundo
a DGS, os casos 15 suspeitos reportados em Portugal até 03 de junho
2022, em crianças com idades entre os quatro meses e 16 anos, ocorreram
entre novembro de 2021 e 31 de maio de 2022. O quadro clínico destas
crianças tem evoluído favoravelmente. Os
outros países da região europeia da OMS que comunicaram casos até final
de maio foram Reino Unido (155), Itália (29), Espanha (34), Holanda
(14), Bélgica (14), Suécia (9), Irlanda (8), Dinamarca (7), Grécia (5),
Noruega (5), Polónia (3), Chipre (2), França (2), Áustria (2), Bulgária
(1), República da Moldova (1), Sérvia (1).O
número total de casos notificados em todo o mundo era de 621, incluindo
14 mortes relatadas na Indonésia (6), Estados Unidos (5), Irlanda (1),
México (1) e Palestina (1).