Crentes e não crentes ameaçam apupar Papa que não siga caminho de Francisco
Conclave
6 de mai. de 2025, 17:33
— Paulo Agostinho/Lusa/AO Online
“Sei quem
eu quero. O Tagle ou o Zuppi”, afirmou o alemão Hans Flick, que tem nome
de treinador de futebol mas que prefere selecionar entre os cardeais
qual deve ser o novo Papa.Luis Antonio
Tagle e Pietro Parolin estão conotados com uma linha que segue a
política de Francisco enquanto Matteo Zuppi é considerado o mais
progressista, tendo admitido a abertura da Igreja às mulheres ou o fim
do celibato dos sacerdotes. Há umas semanas, um dos cardeais que foi sujeito a voto de silêncio disse à Lusa que os tempos estão sensíveis.“As
pessoas estão sensíveis e querem um Papa que não desiluda. Sabemos
isso. Sabemos o risco de que o escolhido seja apupado”, afirmou o
cardeal eleitor.A brasileira Ana Maria também tem os seus ‘papabilis’ favoritos e promete que só vai aplaudir quem achar que merece.“Sou
divorciada e por isso não posso comungar. O meu filho é homossexual e
está impedido de frequentar a Igreja. Conheço padres que vivem com
outras mulheres e não podem assumir. Eu não quero uma Igreja assim”,
desabafa a imigrante brasileira em Roma, que se sente afastada da fé
porque a hierarquia assim o impôs.Apesar
disso Ana Maria anda por estes dias, sempre que pode pela Praça de São
Pedro, com um pin arco-íris do movimento LGBT na lapela e um terço na
mão.“Rezar ainda não me proibiram”, disse.Se
o colégio ainda tem muitos cardeais conservadores e há movimentos mais
tradicionais que juntam muitos fiéis, a morte de Francisco trouxe muitos
católicos pouco praticantes e mesmo não crentes às cerimónias.Junto
ao Castelo de Santo Angelo, defronte da Basílica de São Pedro, estava o
norte-americano Peter Mendel de férias em Roma mas a torcer num Papa
que “salve o mundo dos loucos”.“Não
precisamos de mais Trumps no mundo. Não precisamos de mais
conservadorismo, precisamos de tolerância, de paz. Tudo aquilo que o
Papa dizia”, afirmou Mendel, que se disse “protestante, mas com uma
relação complicada com a religião”.O “Papa Francisco foi o primeiro líder religioso que ouvi a dizer coisas acertadas, coisas que fazem sentido”, disse.Ao
longo do pontificado, o jesuíta argentino tentou promover a discussão
interna, a partir das bases, sobre que mudanças executar na Igreja.Temas
polémicos como padres casados, o acesso das mulheres ao diaconado
permanente, o regressos dos divorciados, o tratamento a dar aos gays e a
relação da Igreja com outras religiões são parte dessa discussão
interna, que partiu de movimentos de leigos, denominada Processo
Sinodal.Apesar de não ter implementado
qualquer mudança, Francisco deu sinais encorajadores aos progressistas,
gerando críticas de muitos movimentos conservadores.O
Conclave tem início na quarta-feira, dia 07 de maio e caberá aos 133
cardeais eleitores, com menos de 80 anos, a responsabilidade de escolher
o sucessor de Francisco.Na quarta-feira,
será só feita uma votação e depois, todos os dias terão quatro votações.
O futuro Papa deverá ter pelo menos dois terços dos boletins contados.