Covid-19: Vacina com nova tecnologia pode proteger de vírus futuros
25 de set. de 2023, 16:53
— Lusa
Os
estudos desenvolvidos pela Universidade de Cambridge e pela DIOSynVax,
empresa criada na sequência da investigação, no início de 2020, sugerem
que uma única vacina com combinações desses antigénios – elementos que
levam a que o sistema imunitário produza anticorpos – poderia proteger
contra uma gama ainda maior de coronavírus atuais e futuros.Segundo
os resultados da investigação, publicados hoje na revista Nature
Biomedical Engineering, a tecnologia de antigénio da vacina forneceu
proteção contra todas as variantes conhecidas do SARS-CoV-2, bem como
outros coronavírus, incluindo aqueles que causaram a primeira epidemia
de SARS (Síndrome Respiratório Agudo Severo) em 2002.“Os
estudos em ratos, coelhos e porquinhos-da-índia – um passo importante
antes de iniciar os ensaios clínicos em humanos, atualmente em curso em
Southampton e Cambridge – descobriram que a candidata a vacina
proporcionou uma forte resposta imunitária contra uma série de
coronavírus, visando as partes do vírus que são necessárias para a
replicação”, refere a investigação, adiantando que a vacina candidata
baseia-se num único antigénio digitalmente concebido e imunologicamente
otimizado.Embora tenha sido desenvolvida
antes do surgimento das variantes Alfa, Beta, Gama, Delta e Ómicron do
SARS-CoV-2, a vacina forneceu uma forte proteção contra todas estas e
contra variantes mais recentes, sugerindo que as vacinas baseadas nos
antigénios DIOSynVax também podem proteger contra futuras variantes do
SARS-CoV-2.A DIOSynVax (vacina sintética
otimizada imunologicamente por via digital) usa uma combinação de
biologia computacional, estrutura de proteínas, otimização imunológica e
biologia sintética para maximizar e ampliar o espetro de proteção que
as vacinas podem fornecer contra ameaças globais, incluindo surtos de
vírus existentes e futuros. Desde o surto
de SARS em 2002, a migração dos coronavírus dos animais para os seres
humanos tem sido uma ameaça para a saúde pública e exige vacinas que
proporcionem ampla proteção. "Na natureza,
existem muitos destes vírus à espera que aconteça um acidente", afirma,
citado num comunicado da universidade sobre a investigação, Jonathan
Heeney, do Departamento de Medicina Veterinária de Cambridge, que
liderou a investigação, salientando que o objetivo era criar “uma vacina
que não só protegesse contra o SARS-CoV-2, mas também contra todos os
seus parentes".Todas as vacinas atualmente
disponíveis, como a vacina contra a gripe sazonal e as vacinas contra a
Covid-19 existentes, baseiam-se em estirpes ou variantes do vírus que
surgiram em algum momento no passado. "No
entanto, os vírus estão a sofrer mutações e a mudar o tempo todo", diz
Heeney, cuja equipa está a desenvolver uma nova abordagem para as
vacinas contra os coronavírus, visando seu "calcanhar de Aquiles", ou
seja, em vez de visar apenas as proteínas ‘spike’ do vírus, que mudam
para escapar ao sistema imunitário, a vacina de Cambridge tem como alvo
as regiões críticas do vírus de que este necessita para completar o seu
ciclo de vida. A equipa identifica estas
regiões através de simulações em computador e da seleção de antigénios
estruturalmente manipulados. "Esta abordagem permite-nos ter uma vacina
com um efeito alargado que os vírus terão problemas em contornar", diz
Heeney.O antigénio otimizado é compatível
com todos os sistemas de administração de vacinas: "Ao contrário das
vacinas atuais que usam vírus selvagens ou partes de vírus que causaram
problemas no passado, esta tecnologia combina lições aprendidas com os
erros da natureza e visa proteger-nos do futuro", salienta, considerando
que se trata de “um verdadeiro ponto de viragem”.