Covid-19: Ensino vai ficar enriquecido depois da pandemia, dizem professores
1 de mai. de 2020, 11:11
— AO Online/ Lusa
Todos os estabelecimentos de ensino estão encerrados desde 16 de março, depois de o Governo ter decidido suspender as atividades presenciais nas creches, escolas e universidades como forma de conter a disseminação do novo coronavírus. Alunos e professores estão desde então a trabalhar à distância.“Foi quase uma transição instantânea, de repente a universidade fechou e tivemos de começar a pensar como é que íamos organizar o trabalho com os alunos nesta modalidade à distância”, recorda Mariana Alves, professora universitária.Os desafios colocados pela suspensão das aulas presenciais aos docentes universitários, os primeiros a passar para um regime de ensino à distância, estenderam-se aos professores de todos os níveis de ensino, que no final do segundo período letivo tiveram de aprender a lecionar fora das escolas.Ana Filipa Oliveira é professora de Matemática numa escola em Almada, onde dá aulas a uma turma do 9.º ano e a duas turmas dos 10.º e 12.º anos do ensino profissional e contou à Lusa que a transição não foi fácil e exigiu um grande esforço por parte dos docentes, e dos próprios alunos, que ajudaram a encontrar e a trabalhar com algumas alternativas.No seu caso, as dificuldades foram redobradas pelo facto de ter de articular o trabalho com o acompanhamento dos dois filhos e dos dois sobrinhos, que ficaram temporariamente a seu cargo, uma vez que o marido, a irmã e o cunhado são profissionais de saúde.Ainda assim, Ana Filipa afirma que, apesar dos problemas, o ensino “vai ficar mais enriquecido para os próximos anos”, em resultado do trabalho que escolas, professores e outras instituições têm desenvolvido durante o período de pandemia.“Todos nós tivemos de começar a criar recursos e, por isso, vai passar a haver muitos recursos que, a partir do momento em que estão disponíveis ‘online’, poderão ser usados nos próximos anos, porque realmente existem pessoas que estão a criar recursos interativos muito bons”, considerou Ana Filipa, dando como exemplo conteúdos e materiais produzidos pelas editoras, canais no Youtube criados por professores, ou as aulas transmitidas na RTP Memória.Para uma professora do primeiro ciclo, o projeto do Ministério da Educação e da estação de televisão pública que voltou a levar professores e aulas para a televisão foi uma das melhores iniciativas que resultou da pandemia.Cátia Domingues é professora numa escola primária no Cacém, Sintra, e o maior problema que tem enfrentado, enquanto docente, durante este período decorre da dificuldade em estabelecer o contacto com as famílias de alguns alunos, muitos deles em situações de carência e sem forma de acompanhar o ensino à distância.“Para muitos deles, é a única forma de aceder ao ensino neste momento”, admite, explicando que mesmo as famílias que dispõem de computador em casa têm que o partilhar entre filhos e pais, que estão também eles em teletrabalho.Para o ensino superior não existe telescola, mas Mariana Alves acredita que também aí vai haver enriquecimento, considerando que a adaptação forçada a um novo modelo de trabalho, apesar das dificuldades que os professores tenham sentido e possam continuar a sentir, abre uma janela de oportunidade para “repensar as práticas pedagógicas”. “Eventualmente, até pode acontecer, e julgo que acontecerá, que isto leve a alguma reconfiguração das próprias práticas pedagógicas, porque há uma grande procura por recursos ‘online’ para evitar que estejamos sempre no Zoom, e tudo isso são instrumentos e recursos de ensino que depois podem ficar”, disse à Lusa.No seu caso, a professora do Instituto da Educação da Universidade de Lisboa considera que o mais positivo que leva desta experiência é uma maior diversificação das estratégias de ensino.É também com um olhar para o futuro que Cátia Domingues fala sobre o momento atual, defendendo que este deve servir para preparar o próximo ano letivo, para que os problemas que se estão a fazer sentir agora fiquem no passado.“(Devemos) criar formas para tentar ultrapassar esta situação, preparar os alunos e os professores para trabalharem com algumas ferramentas que agora não conseguem utilizar, porque não houve tempo para nos adaptarmos, para que se esta situação voltar a acontecer sejam todos mais autónomos”, justificou.A covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, já provocou em todo o mundo mais de 230 mil mortes e infetou cerca de 3,2 milhões.Em Portugal, os últimos dados oficiais registam quase mil mortos associados à covid-19 e mais de 25.000 pessoas infetadas.