Covid-19: Emigrantes portugueses na fila para ajuda alimentar revela crise na comunidade
31 de mai. de 2020, 10:08
— AO Online/ Lusa
“Não são a maioria, mas vi muitos portugueses a irem buscar os cabazes de comida, o que me surpreendeu”, disse à agência Lusa o conselheiro das comunidades neste país, José Inácio Sebastião.Recentemente este conselheiro participou numa iniciativa de oferta de cabazes alimentares em Genebra e ficou surpreendido por ver tantos portugueses a recorrerem a esta oferta.“A maioria das pessoas que precisa desta ajuda é oriunda da América Latina, mas também são muitos os portugueses afetados pela perda de rendimento”, adiantou.Neste país, onde residem 217.662 portugueses, ainda “é grande” a expetativa sobre o real impacto da pandemia. Mesmo os que mantiveram o emprego, mas não puderam exercer a atividade, tiveram perdas na ordem dos 80%, disse o conselheiro.O setor da economia doméstica (empregadas de limpeza) foi o que mais afetou a comunidade portuguesa, assim como os trabalhadores temporários.“Houve uma grande perda financeira”, disse.Na Alemanha, a comunidade portuguesa tem sido elogiada pela forma como acatou as medidas de prevenção contra a covid-19, não se registando até ao momento um único português infetado, conforme disse à Lusa o conselheiro Alfredo Stoffel.Residente em Sassnitz, este conselheiro da comunidade portuguesa explicou que “a pandemia atingiu todos os setores”.“Não houve discriminação entre a sociedade alemã de acolhimento e as suas comunidades”, referiu, indicando o confinamento e o impacto financeiro como as principais consequências da doença.Emocionalmente, adiantou, a pandemia afetou a vida desta comunidade – estimada em 114.705 portugueses – que, de um dia para o outro, se viu privada de conviver com os amigos.A nível financeiro, ainda “é cedo” para uma avaliação rigorosa, mas as empresas tiveram de se adaptar e estão agora a começar a laborar e os trabalhadores a se aperceberem de como irão regressar ao trabalho.Por essa razão, muitos “sentem-se inseguros” em relação à doença, receando uma nova vaga.Em França, “todos foram apanhados” pela crise provocada pela covid-19, disse à Lusa o conselheiro da comunidade portuguesa Paulo Marques, que preside igualmente à Associação dos Eleitos Portugueses, Luso-Franceses e Europeus em França.Com 595.900 cidadãos nascidos em Portugal, esta comunidade é a mais significativa em França e tem sido apoiada pelo Governo francês.“É o que está a salvar as empresas francesas de portugueses”, adiantou.Mas só a partir de 02 de junho, quando a retoma do trabalho for a 100%, é que a dimensão do impacto da doença e das medidas de confinamento será realmente conhecida, adiantou.“Só então se saberá, mas acredito que em outubro já teremos uma noção mais concreta”, disse.Segundo Paulo Marques, os setores mais afetados foram a restauração, com muitos estabelecimentos encerrados e outros a terem de se adaptar ao ‘take away’.Um outro setor que está totalmente parado é o da organização de eventos, com os artistas a não conseguirem saber como será o dia de amanhã.“Os artistas não podem expor, não há público, não há concertos, nem exposições”, lamentou, referindo que existiam “várias coisas programadas” que tiveram de ser desmarcadas, ou adaptadas à realidade virtual.Nestas alturas, sublinhou, tem-se destacado o lado solidário da comunidade que tem procurado ajudar os portugueses mais velhos e que vivem em populações afastadas.“Em França, durante dias e dias só se falava de máscaras, mas a população mais isolada não tinha acesso às máscaras. Fizemos algumas ações de entrega de máscaras e só isso ajudou estas pessoas a sentirem-se mais apoiadas”, acrescentou.Atento a esta realidade, o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) tem vindo a manifestar as suas preocupações, nomeadamente com “os mais vulneráveis, idosos, cadenciados, desempregados e doentes”, disse à Lusa o presidente deste órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à emigração e às comunidades portuguesas no estrangeiro.Segundo Flávio Martins, a pandemia afetou várias empresas “por todo o mundo”, especialmente na área da construção e do comércio em geral, exceto o de alimentos.