Costa defende que alterações ao financiamento dos partidos resultaram de “amplo consenso”
29 de dez. de 2017, 15:03
— Lusa/AO online
"É
uma discussão interminável, desde, pelo menos, 1995, que se legisla
constantemente sobre o financiamento dos partidos, procurando sempre
encontrar um consenso sobre essa matéria. Não me recordo de uma
alteração que tenha tido um consenso tão amplo quanto esta", afirmou
António Costa aos jornalistas.À
saída de uma visita ao Presidente da República, no Hospital Curry
Cabral, em Lisboa, António Costa disse que, até ao momento, não viu na
discussão pública sobre a alteração à lei ser suscitada nenhuma questão
de constitucionalidade, vincando que a intervenção do Governo neste
assunto seria somente a possibilidade de enviar o diploma para
fiscalização preventiva da constitucionalidade, o que não fez.António
Costa disse não ter ido visitar Marcelo Rebelo de Sousa para "incomodar
o Presidente com trabalho", não tendo falado sobre este assunto, pelo
menos não "a sério": "Falar a sério, não, ninguém vem incomodar uma
pessoa que foi operada há menos de 24 horas com assuntos de trabalho,
seria absolutamente inoportuno".Sobre
as alterações à lei disse ter "verificado que foi um trabalho
prolongado de um grupo de trabalho em que os diferentes partidos
estiveram envolvidos, para responder a um conjunto de preocupações do
Tribunal Constitucional e em que se aclarou dúvidas legais mais do que
alargar".O
primeiro-ministro recusou que, como diz ter visto na comunicação social,
as alterações à lei aumentem isenções de IVA aos partidos, argumentando
que essa isenção já existe e "aquilo que se esclarece é quais são as
atividades partidárias que estão abrangidas por essa isenção e quais não
estarão"."É difícil encontrar uma atividade partidária que tenha natureza que não seja própria da sua ação", declarou.O primeiro-ministro também recusa que o diploma tenha efeitos retroativos relativamente a "processos de cobrança pendentes"."Não
se aplica, não tem nenhuma retroatividade. Portanto, tenho visto muita
discussão com base em pressupostos que não correspondem à realidade",
disse, considerando que a discussão pública tem estado "assente em
pressupostos errados e que não correspondem à realidade do diploma".Sempre
vincando que esta matéria não é da competência do Governo, o
primeiro-ministro referiu-se também ao processo legislativo, que foi
conduzido num grupo de trabalho no parlamento, do qual não existem atas
nem a identificação da autoria das propostas e contributos dos diversos
partidos.O
chefe de Governo disse não conhecer "os pormenores" desse processo, mas
apontou que teve uma votação expressiva e que, "seguramente, cumpriu as
normas próprias do regimento da Assembleia da República".Questionado
sobre o futuro do diploma, respondeu: "Não vou estar a fazer futurismo.
Será seguramente aquilo que o senhor Presidente da República o
determinar e, se for caso disso, a Assembleia da República o vier a
determinar".Além
de reforçarem as competências da Entidade das Contas e Financiamentos
Políticos, que passa a decidir sobre a legalidade das contas e a aplicar
as coimas, cabendo recurso para o plenário do Tribunal Constitucional,
os deputados do PSD, PS, PCP, BE e PEV aprovaram alterações para pôr fim
ao limite da obtenção de receitas através de iniciativas de angariação
de fundos.Por
outro lado, decidiram que os partidos poderão requerer a devolução do
Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) dos bens e serviços adquiridos
para a sua atividade.A
lei em vigor determina que os partidos podem pedir a restituição do IVA
"na aquisição e transmissão de bens e serviços que visem difundir a sua
mensagem política ou identidade própria, através de quaisquer suportes,
impressos, audiovisuais ou multimédia, incluindo os usados como
material de propaganda e meios de comunicação e transporte".Na
lei aprovada em dezembro, passou a constar que os partidos estão
isentos do IVA "suportado na totalidade de aquisições de bens e serviços
para a sua atividade".Quanto
à angariação de fundos, na lei atual, estas receitas "não podem exceder
anualmente, por partido, 1500 vezes o valor do IAS" (Indexante de
Apoios Sociais).