Costa abre quinta-feira debate na generalidade em conjuntura de crise internacional
OE2023
25 de out. de 2022, 16:37
— Lusa/AO Online
Nos
planos económico e financeiro, a proposta do Governo de Orçamento do
Estado para 2023 reflete a atual conjuntura internacional de alta de
inflação e de subida das taxas de juro, agravada por uma crise
energética na sequência da intervenção militar russa na Ucrânia.O
Governo prevê que o crescimento desacelere em 2023 para 1,3% do Produto
Interno Bruto (PIB) contra 6,5% no final deste ano – um indicador que
vários analistas classificam como otimista. Idênticas dúvidas colocam-se
em relação à inflação projetada pelo executivo socialista para 2023, na
ordem dos 4%, depois de este ano se estimar em 7,4%.A
proposta orçamental do Governo traduz também um objetivo de manter a
trajetória de consolidação orçamental, com o défice a baixar dos 1,9%
deste ano para 0,9% em 2023 e a dívida a cair para 110% do PIB no
próximo ano.Apesar das previsíveis
dificuldades económicas e financeiras ao longo do próximo ano, a
proposta de Orçamento para 2023 surge enquadrada por dois recentes
acordos de médio prazo concluídos pelo Governo: o primeiro em sede de
concertação social no início do mês; e o segundo assinado esta
segunda-feira com dois dos três sindicatos da administração pública.Em
09 de outubro passado, o executivo fechou com as confederações
patronais e com a UGT um acordo de rendimentos e de competitividade,
prevendo uma valorização dos salários de 5,1% em 2023, de 4,8% em 2024,
de 4,7% em 2025 e de 4,6% em 2026 e a subida do salário mínimo para 900
euros em 2026.Essa valorização salarial é
acompanhada por medidas de desagravamento fiscal para as empresas, assim
como por uma injeção de mais três mil milhões de euros nos sistemas de
eletricidade e de gás para limitar os preços da energia.Já
o acordo plurianual de valorização salarial dos trabalhadores da
administração pública, que não foi assinado pela Frente Comum, da
CGTP-IN, prevê, entre outras medidas, uma atualização salarial anual
equivalente a um nível remuneratório (52 euros) ou um mínimo de 2% para
todos os funcionários públicos até 2026, garantindo-se por essa via um
aumento global de pelo menos 208 euros nos quatro anos.Maior
polémica motivou a estratégia seguida pelo executivo em relação ao
aumento das pensões, antecipando este mês uma prestação extraordinária
única no valor de 50%, mas baixando o valor percentual do aumento para
2023 com o argumento da sustentabilidade da Segurança Social.As
pensões até 886 euros vão aumentar 4,43%, as que têm um valor entre os
886 e os 2.659 euros sobem 4,07%, enquanto as restantes (que estariam
sujeitas a atualização tendo em conta a fórmula legal em vigor)
aumentarão 3,53%.No plano político, o
Governo procurou este ano reforçar os convites para um diálogo à
esquerda em torno do Orçamento, tal como aconteceu nas duas anteriores
legislaturas, mas apenas os deputados únicos do PAN, Inês Sousa Real, e
do Livre, Rui Tavares, deverão estar disponíveis para ponderar uma
viabilização do diploma do executivo.O
Bloco de Esquerda já classificou a proposta orçamental como
“absolutamente inaceitável” por não garantir uma atualização dos
salários face à inflação e sinalizou que não está disponível para
contribuir para um “simulacro” de negociações com o Governo, enquanto o
secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, acusou o executivo
socialista de se ter colocado "ao lado dos grandes grupos económicos"
com a sua proposta orçamental, para a qual disse não ver conserto.Pela
parte das forças parlamentares à direita do PS, o voto contra é
garantido e foi anunciado logo dois dias após a apresentação pública do
documento por parte do ministro das Finanças, Fernando Medina.No
passado dia 12, o presidente do PSD, Luís Montenegro, comunicou o voto
contra dos sociais-democratas, considerando que a proposta de Orçamento
“não tem remendo” e se caracteriza pela “desesperança” de um Governo de
“braços caídos”.No mesmo dia, o presidente
do Chega, André Ventura, disse que votaria contra, alertando para os
riscos de um documento que “navega à vista” e que não robustece a
economia, e o presidente cessante da Iniciativa Liberal, João Cotrim
Figueiredo, justificou o chumbo do documento do Governo por representar
uma “enorme desilusão”, não apresentando qualquer reforma estrutural.