Costa abre debate com viabilização da proposta só garantida na generalidade
OE2021
26 de out. de 2020, 18:00
— Lusa/AO Online
Dois
dados recentes complicam este ano as contas do Governo para a aprovação
final do Orçamento - um documento que o executivo considera ser em larga
medida condicionado pela atual crise sanitária, económica e social
provocada pela pandemia de covid-19: Em julho, o PCP esteve contra o
Orçamento Suplementar para 2020 na votação final global; depois, este
domingo, o Bloco de Esquerda anunciou o voto contra o Orçamento para o
próximo ano já na generalidade, depois de cinco anos em que os parceiros
à esquerda do PS viabilizaram juntos cinco orçamentos.Ao
longo dos dois dias debate, segundo fonte do executivo, além de António
Costa, vão sentar-se na bancada do Governo os ministros de Estado Pedro
Siza Vieira (Economia), Augusto Santos Silva (Negócios Estrangeiros),
João Leão (Finanças) e Mariana Vieira da Silva (Presidência). Estarão
ainda presentes no debate orçamental os ministros do Trabalho e
Segurança Social, Ana Mendes Godinho, da Saúde, Marta Temido, do
Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, e das Infraestruturas, Pedro Nuno
Santos, assim como os secretários de Estado dos Assuntos Parlamentares,
Duarte Cordeiro, e Adjunto do primeiro-ministro, Tiago Antunes. A
proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2021 tem votos
anunciados a favor apenas do PS, contra do PSD, Bloco de Esquerda,
CDS-PP, Chega e Iniciativa Liberal, sendo viabilizada na fase de
generalidade pelas abstenções de PCP, PAN, PEV e das deputadas não
inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues.Neste
grupo de abstenções, ninguém ainda deu ao executivo socialista
garantias de que manterá este sentido de voto após o processo na
especialidade do Orçamento quando em 26 de novembro a proposta for
sujeita a votação final global.O PCP
transmitiu mesmo essa mensagem de forma incisiva, dizendo que as
negociações com o Governo registaram até agora "alguns avanços",
designadamente com a antecipação já para janeiro do aumento
extraordinário de dez euros das pensões mais baixas, mas que esses
progressos são "insuficientes".No plano
político, uma das notas mais relevantes dos últimos dias foi a decisão
do Bloco de Esquerda de votar contra já na generalidade, afastando-se
assim da linha que tem seguido desde o Orçamento do Estado para 2016 -
uma opção que poderá marcar em definitivo o fim da solução governativa
denominada "geringonça", pelo menos tal como foi construída em novembro
de 2015. O Bloco de Esquerda exigiu ao
executivo socialista respostas em quatro áreas que definiu como
fundamentais - reforço do Serviço Nacional de Saúde, abrangência do novo
apoio social, impedir despedimentos e fim das transferências
orçamentais para o Novo Banco - e concluiu que essas respostas não foram
dadas ao fim de vários meses de negociações. Em
contrapartida, o Governo socialista rejeitou esta versão dos
acontecimentos, assegurando que houve da sua parte progressiva
aproximação de posições em relação aos bloquistas em todos esses quatro
domínios, mas que este partido não se moveu da intenção de votar contra o
Orçamento.O PSD, apesar de ter
contribuído em julho passado para a viabilização do Orçamento
Suplementar, anunciou na semana passada que iria votar contra a proposta
orçamental do Governo já na generalidade.Na
justificação do seu voto contra, entre outras razões de ordem económica
e financeira, o presidente social-democrata, Rui Rio, criticou a carga
inerente às despesas do Estado presente na proposta de Orçamento, assim
como a escassez de medidas de apoio às empresas e de estímulo ao
crescimento económico do país. Do ponto de vista político, Rui Rio
referiu que foi o próprio primeiro-ministro quem publicamente dispensou o
PSD de negociar uma eventual viabilização deste Orçamento.Em
matéria de cenário macroeconómico, o Governo estima que, depois de uma
acentuada recessão este ano, que justifica pelas consequências mundiais
da pandemia da covid-19, a economia deverá crescer 5,4% em 2021.Também
de acordo com a projeção do Governo, o défice vai descer de 7,3% em
2020 para 4,3% no próximo ano. Uma redução que, segundo o ministro de
Estado e das Finanças, João Leão, deixará Portugal "em boa posição" no
conjunto dos Estados-membros da União Europeia.Na
proposta do executivo de Orçamento do Estado prevê-se também uma
ligeira descida do desemprego de 8,7% em 2020 para 8,2% em 2021, com as
exportações (depois de uma queda de 22%) a registarem uma retoma na
ordem dos 10,9% e as importações também a subirem para 7,2%. No
que respeita à evolução da dívida pública - vertente que o ministro de
Estado e das Finanças considera fundamental para que Portugal consiga
financiar-se com baixos juros nos mercados -, a previsão do Governo é de
que desça em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) de um máximo de
134,8% este ano para 130,9% em 2021.