Cortejo de Carnaval enche centro histórico com muitas fantasias (Vídeo)
9 de fev. de 2024, 17:00
— Rafael Dutra
O centro histórico de Ponta Delgada ficou repleto ontem, de manhã, com
uma multidão que envolveu mais de 2500 participantes no corso de
Carnaval.Depois de vários dias de chuva, o bom tempo regressou para
dar a oportunidade a miúdos e graúdos de mostrarem as suas fantasias
durante o cortejo.Pelas 10h00, o número de grupos, escolas e instituições concentradas no Campo de São Francisco já era bastante considerável. Com
muito barulho e música, a boa-disposição, animação e o entusiasmo era
geral, mas verificava-se sobretudo nas caras dos mais jovens.Na
ocasião, era possível visualizar os mais variados trajes e fantasias,
inspirados numa multiplicidade de animais, heróis, princesas, tradições
populares, séries, filmes e até na natureza.Sob o olhar atento de
quem não estava fantasiado - muitos pais e familiares dos que estavam a
participar, mas não só -, vestidos em fantasias coletivas, com o mesmo
tema, ou à mercê das preferências de cada um, participaram no corso seis
creches e jardins de infância, cinco escolas básicas integradas, cinco
estabelecimentos de ensino privado, três escolas profissionais e sete
instituições.Neste corso de Carnaval, cujo percurso envolveu dez
ruas do centro histórico de Ponta Delgada, havia quem gostasse de se
mascarar utilizando figuras e personalidades como referência. No caso de
Henrique, de sete anos, o gosto pelo futebol é visível. Vestido a
rigor, com o seu uniforme completo do Sport Lisboa e Benfica, Henrique
confessa que gosta muito de futebol e do Benfica, afirmando que o seu
jogador preferido é o... Cristiano Ronaldo.Já Carolina, de cinco anos, gosta de ratos animados, mais concretamente da Minnie Mouse, o que motivou o uso da sua fantasia.As
fantasias de eleição no Colégio de Castanheiro foram os trajes
tradicionais folclóricos, como usados pela aluna Carlota Oliveira, de
nove anos.Por seu lado, de óculos de sol e vestido à piloto-aviador,
o estilo de Rodrigo, de oito anos, é inconfundível. Numa fantasia que
remete para o filme Top Gun, este ‘Maverick’ açoriano até nem foi quem
escolheu o traje.“A minha mãe disse que gostava muito de ser piloto e
eu também gosto de ser piloto e gosto dos mecanismos dos aviões”,
afirmou Rodrigo, aluno da Escola Externato ‘A Passarada’, acrescentando
ainda que gosta muito do ambiente do cortejo: “Gosto da barulheira, da
bagunça e dos bombos que às vezes tocamos”.Por falar em bombos, Rodrigo Soares, de nove anos, colega do seu homónimo, usa este instrumento musical como seu acessório.“Estou
inscrito na Escola de Música”, refere, explicando que gosta da área
musical e que o desfile é a sua parte preferida do Carnaval.Se este
evento é uma boa ocasião para os mais novos se abstraírem do ensino
normal e se divertirem noutro tipo de contexto, é também uma boa altura
para lhes incutir alguns valores e preocupações como as questões
ambientais.Vestidos de verde, com folhas e ramos na cabeça e colados
ao tronco, as pequenas árvores da Escola Linhares Furtado, que pertence
à EBI Canto da Maia, passearam pelas ruas do centro de Ponta Delgada.Questionada
pelo AO, a pequena Maria, de cinco anos, muito envergonhada, inspirada
na sua fantasia, usou o silêncio da natureza para se exprimir.Por outro lado, a Joana, da mesma idade, vestida de “uma floresta”, não hesitou em dizer que gosta do Carnaval e de se mascarar.Conforme
explica, em declarações ao Açoriano Oriental, a professora da Escola
Linhares Furtado, Susete Oliveira, este ano tiveram como slogan:
“proteger as florestas”.Para a professora o objetivo é “tentar
incutir”, aos mais jovens, “hábitos e condutas”, de forma a “promover a
ecologia e a sustentabilidade ambiental”. Também com a mesma ideia,
mas com uma fantasia diferente, os espantalhos da Escola Cecília
Meireles, da Fajã de Cima, usaram o mote da natureza para os trajes do
cortejo carnavalesco.“Vieram de espantalhos para ver se espantam a
crise toda que há por aí, e para ver se alegra as coisas”, sustenta, em
tom de brincadeira, Cláudia Botelho, da Escola Cecília Meireles,
acrescentando que se trata de trajes reciclados “com serapilheira e
afins”, feitos pelos próprios alunos, em atividades decorridas na
escola.Com as caras pintadas de preto e branco e boinas francesas na
cabeça, um grupo de cerca de 30 a 40 mimos também participou no corso
carnavalesco de Ponta Delgada.Porém, estes não se quiseram pronunciar ao Açoriano Oriental, pelo menos, não através da oralidade.No
entanto, há quem queira, através da sua fantasia, deixar um comentário
social, como é o caso dos idosos do Centro de Dia de São Sebastião,
vestidos de reclusos e guardas prisionais, numa clara alusão à
sobrelotação e a falta de condições do Estabelecimento Prisional de
Ponta Delgada, que, na última semana, transferiu cerca de 20 reclusos
para outros estabelecimentos em Portugal Continental.“Brincando, a
gente quer dar alguma ‘nicadela’. Estamos ainda à espera de um novo
estabelecimento”, relembra o presidente de Junta da Freguesia de São
Sebastião, irreconhecível na sua fantasia de prisioneiro.“Como é Carnaval ninguém leva a mal, mas há que pensar nisso”, frisa José Maria Rego.