Contexto internacional pode potenciar posição geoestratégica dos Açores
3 de set. de 2025, 16:54
— Lusa/AO Online
Em declarações à agência
Lusa, a propósito do Fórum LPAZ realizado na ilha de Santa Maria, a
professora universitária Sandra Balão defendeu que os Açores podem ter
um “novo papel” na “ligação entre o atlântico e o ártico”.“Os
Açores têm uma posição geoestratégica no atlântico norte, que já era
reconhecida pelos americanos e antes deles pela Inglaterra, com
utilização da Base das Lajes e que pode agora ser potenciada pelo facto
de em Santa Maria termos o primeiro ‘space-port’ [porto espacial]”,
afirmou a docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
da Universidade de Lisboa (ISCSP).A
especialista em geopolítica salientou a relevância crescente do ártico,
sobretudo a partir da invasão da Ucrânia pela Rússia, para defender que
Portugal deveria “extrapolar o seu espaço de intervenção
tradicionalmente centrado no atlântico”.Sandra
Balão recordou, também, a “história e a prática” do país e dos Açores
em relação ao ártico para advogar que o Portugal deveria submeter uma
candidatura a membro observador do Conselho do Ártico.“Toda
a acumulação de conhecimento e de saberes e de tradição que os Açores
encerram em si mesmos, conjugadas com localização, deveriam colocar-nos,
se não na vanguarda, pelo menos muito próximos desta vanguarda em
termos de apresentação de candidatura a membros observadores do Conselho
do Ártico”, afirmou.A professora
universitária Licínia Simão concordou que o Ártico pode reforçar o
“papel importante” dos Açores nas “rotas marítimas”, lembrando, ainda,
que o “atlântico continua a ser fundamental” nas relações
internacionais.“Do ponto vista estratégico
e militar o controlo do atlântico norte continua a ser muito
importante, seja por força dos satélites, ou da presença física no
espaço oceânico e terrestre. Os Açores continuam a ter importância”,
assinalou.A docente da Universidade de
Coimbra considerou, também, que os Açores podem ter “relevância
internacional” devido às transformações tecnológicas e as preocupações
ambientais, dando como o exemplo as áreas marinhas protegidas."Agora
é preciso colocar recursos para que áreas marinhas protegidas sejam uma
realidade. Pode ser um exemplo. Há muita gente a olhar para os Açores",
insistiu.A professora de relações
internacionais defendeu que o arquipélago açoriano “dá importância
estratégica” a Portugal, uma situação que exige “investimento” por parte
do Estado.“Estamos a assistir a uma
transformação tecnológica muito rápida. O que sabemos é que o atlântico
norte continua a ser muito importante. Sabemos que os Açores continuam a
ser um espaço terrestre, de presença humana e política que dá a
Portugal essa responsabilidade”, vincou.Já
o historiador Luís Nuno Rodrigues destacou que os “Açores sempre
tiveram ao longo dos séculos uma importância estratégica fundamental
devido a sua posição geográfica no meio do atlântico”, mesmo com
Portugal a assumir uma “dupla dimensão” de “país europeu e atlântico”.“A
nossa política externa, independentemente das flutuações conjunturais,
terá sempre de manter esta dupla dimensão e esta dupla dimensão
assegurará sempre ao arquipélago dos Açores, na minha opinião, um papel
central na definição da estratégia portuguesa e da sua política
externa”, reforçou à Lusa o professor do ISCTE – Instituto Universitário
de Lisboa.