Contar pelos dedos ajuda crianças a desenvolver competências matemáticas mais avançadas
Hoje 13:21
— Lusa/AO Online
A
conclusão sugere que contar pelos dedos é um passo importante para o
desenvolvimento de competências matemáticas mais avançadas, de acordo
com uma investigação da Universidade de Lausanne, na Suíça, publicada
pela Associação Americana de Psicologia na revista "Developmental
Psychology"."Contar pelos dedos não é
apenas uma ferramenta para o sucesso imediato em crianças pequenas, mas
também uma forma de apoiar o desenvolvimento de competências aritméticas
abstratas avançadas", reflete a autora principal, Catherine Thevenot,
da Universidade de Lausanne, citada na quinta-feira pela agência Europa
Press.Contar pelos dedos é muito utilizado pelas crianças pequenas como estratégia para resolver problemas matemáticos. No entanto, muitos professores do ensino primário esperam que as crianças deixem de contar pelos dedos demasiado cedo. Um
estudo francês apurou que 30% dos professores do primeiro ano
consideram a contagem pelos dedos um sinal de que a criança está com
dificuldades em compreender conceitos numéricos.Investigações
anteriores avaliavam geralmente as crianças num único momento e
constatavam que aquelas que utilizavam os dedos para contar tinham um
melhor desempenho em aritmética do que as que não os utilizavam, até
aproximadamente aos 7 anos de idade. No
entanto, após os 7 anos, a relação inverte-se, e as crianças que não
usavam os dedos passam a ter um melhor desempenho do que as que os
usavam. O que permanecia incerto, porém,
era se as crianças que não usavam os dedos aos 7 anos nunca os tinham
usado ou se eram "ex-utilizadores dos dedos" que tinham abandonado a
prática."O nosso estudo teve como objetivo
clarificar esta distinção e compreender melhor o que o uso dos dedos,
ou a sua ausência, revela sobre o desenvolvimento aritmético das
crianças", explicou Thevenot.Para tal,
Thevenot e a sua colega, Marie Krenger, acompanharam 211 crianças suíças
entre os 4,5 e os 7,5 anos (desde o pré-escolar até ao segundo ano do
ensino básico) para avaliar como as suas estratégias de contagem com os
dedos mudaram ao longo do tempo e a sua relação com a capacidade
matemática.Duas vezes por ano, os
investigadores pediam às crianças que resolvessem até três conjuntos de
problemas de adição com dificuldade crescente: somar dois dígitos entre 1
e 5, somar um dígito entre 1 e 5 a outro entre 6 e 9 e somar dois
dígitos entre 6 e 9. Em cada teste, os
investigadores só avançavam para o nível de dificuldade seguinte se a
criança tivesse resolvido corretamente 80% do conjunto anterior.Os investigadores filmaram as crianças e observaram se usavam os dedos durante as tarefas de adição. De
um modo geral, verificaram que a contagem com os dedos atingia o pico
por volta dos 5,5 aos 6 anos de idade. Até aos 5 anos, mais crianças
conseguiam somar sem usar os dedos do que com eles.No entanto, aos 6,5 anos, 92% das crianças já tinham utilizado os dedos em pelo menos um dos itens do teste. Aos
7,5 anos, 43% das crianças eram "ex-contadoras com os dedos" (tinham
usado os dedos para pelo menos um item do teste, mas já não o faziam),
enquanto 50% eram contadoras com os dedos atualmente e apenas 7% nunca
tinham usado os dedos.De um modo geral, os
investigadores descobriram que as crianças com melhor desempenho eram
aquelas que tinham usado os dedos no passado, mas já não dependiam
deles. A partir dos seis anos de idade,
estas ex-utilizadoras dos dedos superaram tanto as crianças que nunca
usaram os dedos como as que ainda os usavam."Isto
tem implicações importantes, pois demonstra que não há razão para
desencorajar as crianças na escola de usar os dedos para resolver
problemas aritméticos", defendeu Thevenot.