Consultora rejeita pressão do Governo dos Açores, mas admite contactos sobre Agendas Mobilizadoras
PRR
6 de abr. de 2022, 10:27
— Lusa/AO Online
“Não
tivemos qualquer tipo de pressão ou sugestão de inclusão de
determinadas entidades na agenda. Tivemos uma reunião inicial a 01 de
setembro, onde esteve presente o senhor secretário regional [das
Finanças], depois tivemos várias reuniões de trabalho e no dia 24 [de
setembro] fizemos a apresentação global da agenda e de quem eram os
membros do consórcio”, avançou.Rui Gidro
falava, em Ponta Delgada, numa audição de perto de três horas na
comissão parlamentar de inquérito à operacionalização agendas
mobilizadoras do PRR nos Açores do Parlamento açoriano.A
Deloitte foi uma das consultoras que o Governo Regional contratou para
prestar apoio técnico às empresas no âmbito do processo de candidaturas
às agendas mobilizadoras, tendo ficado responsável pela agenda do mar,
uma das três criadas nos Açores.Questionado
pelo PS, Rui Gidro disse que o primeiro contacto com as empresas que
poderiam vir a integrar um consórcio para apresentar candidaturas à
agenda do mar ocorreu, numa reunião virtual, no dia 01 de setembro de
2021.O consultor disse que o convite às
empresas para participar na reunião foi feito pela Câmara de Comércio de
Ponta Delgada, mas que foi a tutela das Finanças quem enviou a lista à
Deloitte.“Essa lista foi-nos facultada,
salvo erro, pela secretaria regional como a lista de entidades que
seriam convidadas. O convite terá sido facultado pela câmara de
comércio”, adiantou.Quando à seleção final
das empresas que apresentariam candidaturas aos fundos do PRR, Rui
Gidro disse que a consultora se limitou a avaliar as “manifestações de
interesse de investimentos” e a perceber se cumpriam ou não os critérios
previstos no aviso.“Não havia aqui
subjetividade quer da Deloitte, quer das câmaras de comércio, quer do
Governo Regional. Foi tudo numa lógica muito estrita de aplicação dos
critérios que estavam definidos”, frisou.Os
Açores tinham uma verba disponível de 117 milhões de euros para as três
agendas, mas só a agenda do mar ultrapassou esse valor numa fase
inicial.“Fomos juntando todos os
investimentos que nos foram chegando e que eram elegíveis e fomos
somando e, no final, chegámos a um investimento de 130 milhões. Dava um
valor substancialmente acima do que estava previsto”, revelou o
consultor.Perante este cenário, segundo
Rui Gidro, coube à tutela das Finanças decidir que fosse feito um corte
de 40% em todos os projetos, reduzindo o valor global da agenda do mar
para 80 milhões de euros.“Não nos competia
a nós fazer esse corte. Nós estávamos a assessorar a submissão da
candidatura que iria ser feita. E também não competiria às câmaras de
comércio, que estiveram a facilitar esse processo. Teria de ser o
Governo Regional a fazer essa sugestão às empresas de se fazer uma
manifestação de interesse por um valor inferior. Quem faz a submissão
são as entidades, que poderiam não estar de acordo, mas houve essa
anuência”, adiantou.O consultor admitiu
que partiu do gabinete da secretaria regional das Finanças uma “sugestão
para fazer uma análise da elegibilidade” de um investimento de cerca de
1 milhão de euros por parte da Universidade dos Açores, mas ressalvou
que o envolvimento de universidades era um dos requisitos do processo.Rui
Gidro reconheceu ainda que se reuniu, individualmente, por
videoconferência, com quatro entidades (Associação Regional de
Conserveiras, Sociedade Corretora, Finançor e Mutualista), antes de uma
reunião presencial com as restantes empresas.“Por
serem entidades com maior dimensão, eram entidades que se devia começar
a estabelecer contactos, para avaliar do interesse delas de submeterem
uma manifestação de interesse e se tinham ou não investimentos em
carteira”, explicou.Questionado pelo PS sobre quem enviou os contactos dessas quatro empresas, disse que "terá sido o Governo Regional”. O consultor garantiu que não foi a Deloitte que construiu o consórcio, juntando apenas as manifestações de interesses.Quanto
à liderança do consórcio, disse que a consultora identificou a empresa
pública Portos dos Açores, pelo “perfil da tipologia de investimentos” e
pelo facto de estar “presente em todas as ilhas”, mas que a decisão
final foi do Governo Regional.“Não nos
compete a nós decidirmos quem seria o líder. Isso foi um assunto que nós
falámos com a secretaria regional [das Finanças], que acredito que
tenha depois falado com a secretaria regional do Mar e das Pescas”,
revelou.A comissão de inquérito às agendas
mobilizadoras foi aprovada por unanimidade no parlamento açoriano em
outubro de 2021, depois de vários partidos terem questionado a gestão
feita pelo Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM) às verbas previstas no PRR
para o arquipélago ao abrigo daquele programa.Em
causa estava uma verba inicial de 117 milhões de euros, financiada pelo
PRR, destinada a projetos de inovação, turismo e agro-indústria, a que
poderiam candidatar-se as empresas açorianas que apresentassem projetos
em consórcio com outros grupos económicos.Na
sequência de críticas ao processo, os consórcios criados nos Açores
deixaram cair as propostas, em outubro, a pedido do presidente do
Governo Regional, que disse ter a “garantia” do Governo da República de
que a verba destinada à região não estava em causa.