Construtora do hospital modular de Ponta Delgada contactada logo no dia seguinte a incêndio
24 de abr. de 2025, 17:29
— Lusa/AO Online
“Contactaram
a MBW no dia 5 de maio, não no contexto de um hospital modular, mas
para aferir do tipo de soluções que teríamos para um possível
internamento de doentes”, explicou Mário Fernandes, sócio-gerente da
empresa, ouvido hoje na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Incêndio no
HDES, reunida em Ponta Delgada.Segundo o
empresário, o contacto telefónico foi feito diretamente pela secretária
regional da Saúde e da Segurança Social, Mónica Seidi, que tem sido
acusada de impor a solução do hospital modular, como forma de recuperar a
atividade assistencial daquela unidade de saúde, em vez de investir na
recuperação do edifício principal, danificado pelo incêndio.Durante
a audição parlamentar, Mário Fernandes lembrou que a intenção inicial
do executivo de coligação (PSD, CDS-PP e PPM), era construir um hospital
modular de pequena dimensão, aproveitando a área do heliporto, apenas
com duas valências (um serviço de urgência e um internamento com 120
camas).“Era uma solução de 1.675 metros
quadrados. Na altura só estávamos a conseguir pôr 92 camas, mas não era
porque não quiséssemos cumprir as 120, era apenas para tentar ficar
dentro do quadradinho do heliporto, para tentar mitigar o custo das
infraestruturas”, justificou o sócio-gerente da MBW, ouvido pelos
deputados.O empresário lembrou que, aos
poucos, os membros do Conselho de Administração do HDES foram sugerindo
alterações ao projeto inicial do hospital modular, de forma a incluir
também um bloco operatório, um bloco de partos, urgência pediátrica e
serviços de neonatologia, além de equipamentos de Raio X, TAC e até
ressonância magnética, o que fez derrapar os valores iniciais da obra,
orçada em 11 milhões de euros.“O que é
certo é que, em 31 de agosto, a urgência estava a ser inaugurada”,
apenas 34 dias após a adjudicação da obra, disse Mário Fernandes,
realçando que, mesmo com todas as alterações introduzidas ao projeto, a
empresa conseguiu cumprir os 60 dias de prazo inicialmente previsto.Questionado
sobre se o hospital modular poderia vir a ser instalado noutra ilha, em
caso de catástrofe (faculdade que tinha sido anunciada pelo executivo
açoriano como uma das grandes vantagens desta opção), o depoente
garantiu que isso seria possível, apesar da sua complexidade, e do custo
financeiro associado, que poderia rondar 30% do seu valor inicial.O
sócio-gerente da MBW disse também que nenhum dos membros do Conselho de
Administração do HDES manifestou, na altura, qualquer oposição à opção
do hospital modular, posição que contraria as afirmações feitas esta
quarta-feira pela então presidente, Manuela Gomes de Menezes, que disse
que se fosse obrigada a adjudicar essa empreitada, iria demitir-se.“A
dr.ª Manuela Menezes, no nosso entender, sempre foi um catalisador da
solução! Nós sentíamos que toda a gente estava no mesmo comprimento de
onda!”, insistiu Mário Fernandes, recordando que a ex-administradora
participou em quase todas as reuniões de trabalho em que esteve presente
e nunca se opôs aquele investimento.O
incêndio que deflagrou no dia 04 de maio no HDES, na ilha de São Miguel,
teve origem “em baterias de correção do fator de potência”, e foi
combatido durante cerca de sete horas pelos bombeiros voluntários,
obrigando à transferência de todos os doentes internados para outras
unidades de saúde, incluindo para fora da região.