Consórcio recusa responsabilidades pela não construção de barcos elétricos para os Açores
2 de dez. de 2024, 16:30
— Lusa/AO Online
“Solicitámos à Atlânticoline que
introduzisse no contrato uma cláusula que permitisse, em caso de
derrapagem da data do início de construção, que o prazo de entrega dos
navios fosse adaptado até que tivéssemos o visto prévio do Tribunal de
Contas”, explicou o jurista do consórcio Alexandre Albuquerque durante
uma audição na Comissão de Economia da Assembleia Regional, realizada em
Ponta Delgada.Segundo disse, uma das
obrigações do consórcio era ter os navios prontos a operar até 31 de
dezembro de 2025 mas, para cumprir esse prazo e não ser alvo de
eventuais penalizações contratuais, o consórcio teria de iniciar os
trabalhos de construção dos dois navios elétricos a 19 de agosto de
2024, altura em que o contrato não tinha sido ainda assinado por
aguardar o visto do Tribunal de Contas.O
jurista explicou que, “a determinada altura da negociação, a
Atlânticoline aceita a introdução de uma cláusula que iria conformar
esta preocupação do consórcio e chegou a enviá-la por correio
eletrónico”.Contudo, na versão que a
empresa açoriana colocou na plataforma para assinatura já não consta a
cláusula que tinha sido negociada por ambas as partes, lamentou.Segundo
Alexandre Albuquerque, num contrato que prevê penalizações ao
construtor por incumprimento contratual, que podem ir até aos 5 milhões
de euros, “seria impensável” assinar o acordo sem aquela cláusula de
salvaguarda.“Nenhum administrador de nenhuma empresa poderia cometer a imprudência de entrar num contrato destes”, afirmou.A
presidente do Conselho de Administração da Atlânticoline, Isabel Dutra,
também ouvida pela comissão parlamentar, a pedido da bancada do
PS, para esclarecer o que correu mal no concurso para a construção dos
navios elétricos, escusou-se a fazer comentários sobre este processo,
alegando que o assunto está a ser analisado por um gabinete jurídico.“No
âmbito do anterior processo, não me vou pronunciar! Apenas referir que o
gabinete jurídico que está a analisar o caso é um gabinete externo”,
referiu a administradora, em resposta às perguntas feitas pelos
deputados ao parlamento açoriano, que pretendiam saber por pormenores
sobre este caso.Isabel Dutra já tinha
explicado, numa entrevista realizada em outubro, que a Atlânticoline
iria anular o concurso para a construção dos barcos elétricos, no valor
de 25 milhões de euros, pelo facto de o consórcio se ter recusado a
assinar o contrato.“Infelizmente, o
concurso não teve o desfecho que nós estávamos a contar, tendo em conta
que, já depois de termos adjudicado a proposta, o consórcio vencedor
veio solicitar alterações, quer ao prazo de execução, quer às
características técnicas dos navios, alterações essas que contrariavam o
que estava definido no caderno de encargos”, justificou, na altura, a
administradora.Por falta de entendimento
entre ambas as partes, o processo vai agora para tribunal, o que obrigou
a Atlânticoline a lançar um novo concurso público internacional.“A
Atânticoline tudo fará para que este projeto seja concluído, que cumpra
os prazos, e que, no segundo semestre de 2026, tenhamos os dois navios a
operar na região”, sublinhou Isabel Dutra, durante a audição
parlamentar.A empresa opera atualmente com
cinco embarcações próprias: a lancha Ariel, com capacidade para 12
passageiros, os navios Cruzeiro das Ilhas e Cruzeiro do Canal, com
capacidade para 191 passageiros cada, e os ferries Mestre Jaime Feijó e
Gilberto Mariano, capazes de transportar, respetivamente, 333
passageiros/13 viaturas e 296 passageiros/10 viaturas.