Consequências de incêndio que matou oito pessoas dominam conversas na rua
14 de jan. de 2018, 13:08
— AOnline/LUSA
Junto ao edifício
de dois andares - cujo andar superior, onde terá começado o incêndio,
está totalmente calcinado - concentram-se várias pessoas, a maioria
habitantes da povoação, na qual se incluem algumas que se encontravam
nas instalações aquando do sinistro que, para além das vítimas mortais,
provocou várias dezenas de feridos, entre graves e ligeiros. Eduardo
Antunes pertence à direção da associação recreativa e, na noite de
sábado, quando ali decorria um torneio de cartas, estava de serviço ao
bar, no piso térreo, no momento em que foi alertado por gritos de uma
mulher a pedir às pessoas que fugissem, face ao incêndio. "Eu
não me apercebi do incêndio, uma rapariga começou a gritar ‘fujam,
fujam' e eu saí por aquela porta de lá", disse o morador à Lusa,
apontando para um dos topos do prédio, oposto à porta onde acabaram por
se concentrar a maioria das vítimas, que tentavam sair. Quando
Eduardo Antunes chegou à rua, "já havia labaredas a sair ali pela
janela [do primeiro andar] e tentou, com outras pessoas, abrir a porta,
que "abria para dentro". "Mas
não havia hipótese, porque as pessoas estavam caídas da parte de
dentro. Nós fazíamos força para dentro e as portas não abriam",
explicou, De
acordo com o morador, "estava mesmo muita gente" no edifício aquando do
incêndio, já que ali decorria um torneio de cartas "que tem muito
impacto aqui na nossa aldeia, participam pessoas de várias freguesias,
até dizem que é um dos torneios mais bem organizados do distrito de
Viseu", alegou. Eduardo
Antunes frisou ainda que quatro mortos são de Vila Nova da Rainha -
três homens e uma mulher, o mais novo com 56 anos e os restantes na casa
dos 60 anos - e os restantes quatro de fora da povoação que fica
localizada num vale, no sul do concelho de Tondela e que sofreu com os
incêndios de 15 de outubro, cujos prejuízos ainda permanecem visíveis
nos quintais e terrenos em redor. "Isto
foi tragédia em cima de tragédia, foi tudo seguido. Não há explicação,
parasse que estamos a caminhar para o fim do mundo", ilustrou. Outro
morador, que não quis ser identificado, recordou os momentos seguintes à
deflagração das chamas, afirmando que as vítimas "precipitaram-se
escadas abaixo" em direção à saída e várias acabaram por cair. "Puxámos alguns que estavam por cima, por baixo não conseguimos puxar ninguém", lamentou. Já
Júlio Dias disse que o edifício possuía duas salamandras, uma no
rés-do-chão e outra no andar superior, e que um "excesso de temperatura"
nesta última "que inflamou o teto" terá estado na origem das chamas. No
edifício, que fica numa rua da povoação entre dois largos, são visíveis
vidros partidos e o interior calcinado no piso superior, onde subsistem
vários troféus enegrecidos colocados junto a duas janelas.No
local, na noite de sábado, estiveram pelo menos 173 operacionais,
apoiados por 67 veículos e dois meios aéreos (um helicóptero do
Instituto Nacional de Emergência Médica e outro da Força Aérea) que
transportaram os feridos para os hospitais. Entretanto,
a GNR vedou hoje de manhã a rua junto ao edifício, na qual a
movimentação de pessoas tem vindo a aumentar, com um crescente número de
populares e autoridades, nomeadamente elementos da Polícia Judiciária.O
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou que se vai
deslocar ao local ao final da manhã de hoje. O ministro da Administração
Interna também deverá deslocar-se a Tondela.