Conselho Nacional de Educação pede mais formação nos primeiros anos e estratégia para adultos
9 de dez. de 2025, 17:56
— Lusa/AO Online
“Temos
um sistema que evoluiu muito positivamente, mas que ainda mantém alunos
de famílias pobres, com ‘backgrounds’ de fragilidade económica e
social, sem aprender aquilo que poderiam e deveriam”, alertou o
presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Domingos Fernandes,
no dia em que foi divulgado o relatório "Estado da Educação 2024".O
relatório denuncia que Portugal continua a ter dificuldades em
contrariar o destino de quem nasce numa família desfavorecida, sendo
habitual ver alunos mais pobres com percursos escolares mais erráticos:
Chumbam mais, desistem mais dos estudos e chegam em menor número ao
ensino superior.“As crianças e jovens das
classes mais desfavorecidas estão, de facto, numa grande desvantagem,
apesar dos esforços que têm sido desenvolvidos e que continuam a ser
desenvolvidos para, por exemplo, financiar melhor a ação social
escolar”, disse Domingos Fernandes em declarações à Lusa.Para
o presidente do CNE, o problema tem de ser atacado logo na infância,
com um reforço de oferta de pré-escolar e com “programas nacionais
fortes de apoio à aprendizagem da leitura e da escrita”.“É
fundamental cuidar da educação nos primeiros anos, porque logo
aí milhares de alunos começam a ficar para trás e não concluem sem
“chumbos””, alertou, defendendo que para aprender "é absolutamente
fundamental" saber ler e escrever bem.Domingos
Fernandes lembrou também que os alunos são “competentes a reproduzir
informação, mas bastante menos competentes quando é requerida a
elaboração cognitiva”, por isso o CNE defende o fomento de competências
que facilitem a aprendizagem, como o pensamento crítico e a capacidade
de raciocinar e resolver problemas.A baixa
escolarização da população adulta e a pouca oferta de formação é vista
por Domingos Fernandes como uma “situação muito grave” que também
precisa de ser combatida.Mais de um terço
da população ativa não concluiu o ensino secundário, sublinha o Estado
da Educação 2024, que mostra que esta é a realidade de 38,5% dos
portugueses entre os 25 e os 64 anos. Outros 30,1% dos adultos
concluíram a educação secundária ou pós-secundária e 31,4% a educação
terciária.A formação média dos adultos
portugueses é muito inferior à média da União Europeia e da OCDE, refere
ainda o Estado da Educação, que mostra também que há cada vez menos
adultos em programas de formação e que 40% dos adultos que vivem em
Portugal só conseguem compreender textos simples e fazer contas básicas.Este
último dado foi divulgado há exatamente um ano no Inquérito às
Competências dos Adultos realizado pela OCDE, que colocou os portugueses
em penúltimo lugar de uma tabela de 31 países, só à frente dos
chilenos.Perante este cenário, o
presidente do CNE recomendou uma “estratégia nacional” para a formação
de adultos e uma “política mais robusta” que acabe com as “baixas taxas
de execução de formação de adultos”.“Temos
uma situação bastante grave. Temos centenas de milhares de pessoas na
vida ativa que não têm o diploma do ensino secundário e muitos sem o
diploma do 9.º ano, têm apenas o 6.º ano. Não têm competências para
resolver problemas muito simples”, alertou Domingos Fernandes.Para
o presidente do CNE, a falta de formação da população adulta e a
dificuldade em compreender textos um pouco mais elaborados levanta
“problemas sérios de coesão social, de salários, de funcionamento da
própria sociedade e de funcionamento da própria democracia, porque estas
pessoas não estão preparadas para participar na vida pública”.